quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um bem haja à diversidade

Não sei o que me espera nos dias que se avizinham. Não sei que amizades travarei nem sei que pessoas adoptarei como amigas. Não sei ainda se terei muito ou pouco trabalho. Nem sei ainda se irei gostar ou não. Nem muito menos se me apaixonarei.

Também não me interessa. Sinceramente.

Só de ver que há diversidade, a minha alma irrequieta e, a meu ver, neurótica, sossegou. Há espaço para todos e há lugar para tudo.


*


Um generoso bem haja a isso



[na foto: Hugh Laurie para uma sessão fotográfica para a Vanity Fair em que têm de reagir perante três situações diferentes. Diversidade portanto
ESQUERDA: Um pai dedicado que se sentou à mesa juntamente com a mulher e com a filha de 15 anos para jantar e a última anunciou que estava grávida. CENTRO: Um estilista que se apercebe na manhã do seu importante desfile que nada da sua colecção está pronto ou fabuloso.
DIREITA: Um pomposo membro do Parlamento Inglês a dar um discurso que está a ser transmitido na BBC e que está fascinado com o som da sua própria voz.]

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vitamina Pop da Noite



reparei não tinhamos cor no nosso blog há já algum tempo. vá lá, dancem - eu não conto a ninguém.

Sucker


É o eterno clássico.

Dormimos nós no mais profundo sono quando um súbito e enervante zumbido nos trespassa os sentidos e perturba o espírito. Abrimos os olhos de rompante e a percepção do que aquele zumbido representa rapidamente se transforma numa confirmação: acendemos a luz e avaliamos os braços só para ver uma marca de insecto ainda fresca. Uma não - uma, duas, três.. talvez até cinco se estivermos numa maré de sorte. Tão de sorte que a comichão alastra a todo o lado.
Ooh, maravilha. E isto tudo porque é pois a assinatura da tão inevitável e infalível

melga.

Jackpot. É claro que todos sabemos o que isso significa. Uma dose integral de melguinha pela noite equivale a pelo menos acender tudo o que é luz e procurar a maldita em cada canto do quarto com uma chinela na mão. Ah, todo o nosso epírito e sono admoestado exige apenas duas coisas: vingança e sangue - o nosso sangue!
Porque mais que as borbulhas do dia seguinte em si, é o grau de irritação quase sobrenatural que isto sempre me provoca - ou serei a única? Sou da forte opinião (e porque a meio da madrugada as opiniões são mais frescas) que possuímos um qualquer instinto primitivo de predador que acorda de forma quase "pavloviana" com estas intervenções; sou uma pessoa pacífica por natureza mas por essa altura já andava a divagar em regar a criatura com gasolina e madar.lhe um fósforo para cima. Por isso, se tivermos alguma restia de sorte e dignidade
matamos a melga.

Senão, como parece ser o mais clássico dos casos, vamos contrariados para a cama de novo. Sem sono. E com o endredon até à cabeça. Que é como quem diz que nem consegues respirar nem evitar o calor abafado e insuportável (sim, porque as sacanas só atacam quando está calor). Por isso ficamos novamente contra a parede: se dormirmos debaixo dos cobertores axfixiamos; se regarmos o quarto com insecticida ficamos satisfeitos mas também asfixiamos (e de forma tóxica); se continuarmos à procura perdemos de todo o sono; se ficarmos na mesma, ficamos na mesma. E isso é como quem diz "it sucks" .. literalmente.

Eu optei pelo sofá da sala; cobertor e almofadas incluídos. Felizmente é grande e confortável e à falta de consolo fica a televisão baixinha num canal de música só para embalar. E, pelo sim pelo não, lá também lá levei a chinela para ficar ao meu lado.
É que eu odeio melgas (e já nem falo das sociais) e de todas as longas e bem passadas noites tinham de chatear logo ontem, que me embuí de levantar cedo após um Verão a acordar ao meio.dia. Logo na véspera do minha estreia na universidade.

Já agora, correu bem. Melhor teria sido se não estivesse tão cansada - e eu ontem prometi à minha semi.consciência que exprimia aqui a sua revolta; para a acalmar e dormir as duas horas que lhe restavam.

Adeus e boa noite. Jared Leto na fotografia.


*

domingo, 20 de setembro de 2009

Perpétuação

Quem é que eles pensam que são para me tratarem daquela forma? O que é que eu fiz? Cheguei com uma mão cheia de objectivos e um sorriso expectante na cara, e então? Isso é crime? Condenável?
Serei a única a pensar assim desta forma?
Receio que a resposta seja afirmativa.
Merda. Estou a perpétuar o julgamento de algo que mal conheço.

[Deus queira que me engane. Deus queira.]


E o mais engraçado é que faltam 15 minutos para as 00:00 e o que sinto é desânimo, frustração e cansaço. Era suposto sentir alegria, afinal de contas "não se fazem 18 anos todos os dias!".

Johnny Depp na foto

domingo, 13 de setembro de 2009

Frase do Dia

"The last message you sent said I looked truly down, that I oughtta come over and talk about it.

Well, I wasn't down, I just wasn't smiling at you, yeah."


You Could Have So Much Better, Franz Ferdinand

sábado, 12 de setembro de 2009

Action!

Quero o meu direito a usufruir do mito.

Ainda tenho muitas crónicas no bolso. Que é como quem diz que existe uma quantidade infindável de palavras enleadas em pensamentos mais ou menos soltos, estados de alma que ficaram por exprimir ou ideias por explorar. E é a verdade mais pura e crua que nem sequer tive qualquer pretexto válido para este silêncio nem para não tocar tão prolongadamente nas crónicas. É assim, é assado, é frito e cozido: podia dar as justificações que quisesse, mas a questão é que grande parte das coisas que fazemos ou nos acontecem não passam de simples acções nonsense às quais tentamos dar algum sentido.

O que por sua vez me leva a perguntar: porquê esta tendência para ver as coisas de um ponto de vista quase narrativo então? Porque é que, por exagero, graça ou só por pensar demais, damos a certas ocorrências da vida um carácter quase épico? E, contudo, torna-se por vezes irresistível não o fazer. Daí que me sinta agora numa dessas fases.

Admito, a culpa é minha - minha e de algumas pessoas como Miss H. que compactuam com esta mesma forma de pensar: que uma série de acontecimentos e pequenas mudanças caminham só e irremediávelmente em direcção a um ponto fulcral de viragem. Que todos esses esforços e tensões (acumulados e agravados por exames, importantes decisões e cansaço) ou apenas longos momentos de entediante indiferença só se podiam reverter com algo novo. Um momento.

Este. No meu caso, o saber os resultados de entrada na Universidade.

Portanto sim, é tudo minha culpa. Eu criei um mito e sustentei.me nele, na crença que teria de encarar isto como uma série de etapas: primeiro, arrumar as coisas que tinham de ser arrumadas e fazê.lo num espaço com pouca manobra para erros; em segundo lugar, agir de forma decisiva e irreversível, algo tão angustiante quanto deliciosamente confortante mal escolhi o que queria e entreguei aquela candidatura de consciência limpa. De repente as coisas tornaram.se claras, serenas e depois.. foi só aguardar - até agora.
E uma vez chegada à meta final do meu mito (que só agora vai dar lugar a uma corrida muito maior, esta bem real e a sério) só quero poder celebrá.lo como tal.

Bolas, afinal entrei no curso que escolhi em primeiro lugar. No que queria e com margem para tal!

Por isso, nonsense ou épico só sei que quero a minha legitimidade para gozar este curto período, cantar alto e (caso ninguém esteja a ver) dançar. Para ouvir a minha lista de músicas feel good mood e de bicho carpinteiro sem me importar. Para dizer que marquei um ponto final e iniciei algo novo. Porque no final é disso que se trata: não de acabar o liceu ou de entrar na universidade mas de ter de recomeçar e jogar com novas regras.

E se quisesse de facto usar uma justificação mais épica, diria que não há melhor forma para quebrar um longo período acções suspensas como iniciar um relato com uma notícia destas.

[Os Beatles na fotografia]

*

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A importância de fazer o Ernesto

Está na hora. [Nada mais me vem à cabeça senão todos estes vários acontecimentos isolados que estranhamente têm se encaixado num plano superior e estranho. Todos juntos apontam para a mesma coisa ou pelo menos para a mesma mensagem. Asseguro.vos que a irão descobrir ao longo destas tortas linhas.]

Há dias conheci o novo "namorado" de uma das minhas amigas de infância. X chama-se ele. É um rapaz alto e magro. Cabelo meio desgrenhado, pelos ombros de um castanho meio claro. Barba de dois dias. Olhos brilhantes e sorriso sempre pronto. Portador de um género muito próprio. Daquele que para nós é querido e original e para ele normal e rotineiro, banal até. Ao longo da noite pude descobrir outras características como o seu sarcasmo, inteligência e sentido de humor. Gosta de danças de salão não de tecno ou transe. Deu uma nota de 10 euros para pagar uma viagem de 5 e ia-se embora sem troco. Sem fantasiar ou extrapolar, este rapaz, inexistentes leitores, é em metade (senão mesmo totalmente) a personificação do tipo de rapaz que passeia nas paredes invisíveis do meu imaginário.

O mais curioso é que a minha amiga em questão em nada se assemelha com ele. Quando me dava as pistas iniciais sobre o rapaz apressou-se a assegurar-me que não teria nada de sério ou que não ia assumir nada de muito complicado, embora estivesse apaixonada. Sim ela está apaixonada, a pobre coitada. Apaixonada, não embeiçada ou engraçada.
São diferentes e moram a pelos menos 5 países de distância. Razões perfeitamente válidas e justificáveis para a sua racionalidade. Mas então se é assim porque é que ela resolveu aceitar esta experiência? Porque é que o deixou vir ter com ela a Lisboa se depois a despedida será muito pior? Para quê 5 dias solarengos, regados de passeios e beijos se depois no final da semana as lágrimas são mais que garantidas?

[Porque vale a pena. Vale sempre a pena. Sempre.]

A impressão ou "comichão" que me fazia antes ao vê-los juntos, agora dissipou-se. De repente percebi: sim é verdade que em nada são parecidos e sim também é verdade que dava tudo para ter um rapaz assim ao meu lado e que, em surdina, me sinto um pouco, ok muito, injustiçada. Afinal de contas das três amigas eu sou a mais intelectual, sou a que mais me esforço para saber mais ou para encontrar algo ou alguém onde me sinta realmente identificada e assim do nada ela aparece junto a mim com um rapazinho daqueles. É claro que sinto algo. Não sou de ferro. Mas também assumo que o sinto e não torno essa sensação agridoce em algo negativo. Não.
Ela mereçe, disso não tenho dúvidas. Tudo isso não deixa de ser verdade mas se virmos bem o que ela está a sentir, já eu senti...no verão passado. Confesso que não sentia nem metade do que ela sente por ele mas conseguia sentir-me feliz, diferente, adulta mas acima de tudo mais liberta.

E lá está ela deu-lhe algo que eu ainda não lhe podia dar, o que nos leva à segunda questão. E por isso mesmo sinto-me uma tola, uma idiota e atrasada.

"-Não existem príncipes encantados."
"-E julgas que eu não sei?"
"-Sabes perfeitamente que tens um ritmo diferente. É assim mesmo e não vais morrer por causa disso. Cada um é como é."
"-Sim, sim..."
"-Agora também não podes ser niquenta ou esquisita."

[Obrigada pai, fizeste-me sentir muito melhor.]

"-Mas que mania é essa de eu ser niquenta? Eu não sou assim! Bolas!" (É que não sou mesmo!)

Deviamo-nos auto-congratular por sermos cidadãos de uma sociedade significativamente aberta em que o sexo é tratado como uma banalidade (às vezes até demais). Um sociedade que prima, na generalidade, pela informação e planeamente familiar. Uma sociedade que aceita de braços abertos jovens ainda virgens. É quase grandioso. Obrigada Senhor! Mas se tudo isso acontece porque raio me sinto, mais do que nunca, pressionada para o deixar de ser? E não sou só eu, acreditem. É lixado.

E aquela sensação estranha de atraso insiste em aparecer por muito alta que esteja a música.
A questão é: se somos assim tão diferentes e especiais, tão fieis enquanto amigas, responsáveis enquanto filhas e aplicadas alunas e mais uma caixa de cartão cheia de palavras bonitas porque raio não merecemos um rapaz "porreiro" como prenda?
A sério. É que não faz sentido. Nenhum. (Tal como este estúpido texto que em nada contribuí para este blog.)
Mas sabem...ás vezes consigo sentir-me muito mal. Tento acreditar e convencer-me que é assim mesmo que as coisas são e que cada um é como é. Que quem tiver de aparecer simplesmente ainda não apareceu. Mas que irá aparecer.
E se isso não for verdade? Se de repente ao toque de umas palavras mais ríspidas não me vejo realmente tal como sou: uma daquelas miúdas de camisa de noite com o dedo na boca e com o urso preso na outra mão à procura de algo enquanto chucha pacificamente no seu pequenino dedo.


*


Tudo isto, perguntam-se vocês, para quê? Para nada ou para tudo. Escolham. Para mim era urgente. Tinha de tirar todas estas frases encadeadas em raciocínios estranhos da minha mente senão não iria aguentar até ao final da semana. Agora e atenção não confundão este post que é um desabafo desajeitado com um discurso "uh-não-gosto-de-mim-porque-ainda-não-tive-sorte" ou algo "Libertem os virgens!".

Um bem haja bem escondido...

[na foto: Clark Gable e Claudette Bernard numa cena do filme "It Happened One Night" de Frank Capra. Vale mesmo a pena ver até porque percebem o porquê desta imagem]