segunda-feira, 30 de abril de 2012

Freedom at 21




Já não me dou a sonhos e divagações capazes de romper pelas paredes.

Já não me dou às ideias explosivas, de estrondo e poeira violentos, aos projécteis disparados para perfurarem alguém ou se despedaçarem no meio da rua. Pelo menos na minha cabeça, a convulsão implodiu para ficar neste silêncio estático durante demasiado tempo. Estou desperta. Não, não estou. É conforme, para umas coisas sim e noutras fico parada - não é coerente. Dou por mim, mais vezes do que devia, reduzida à condição de “estar”. Estar atrás deste ecrã frio e de rabo na cadeira. Seja a trabalhar ou a não trabalhar. Continua a ser este ecrã - estéril, seco. Que aconteceu à paixão das folhas preenchidas e amachucadas, dedos sujos, à imaginação absurda que transborda das páginas de um livro só pelo prazer do mesmo? Que aconteceu a sugar a vida, ainda que fosse pelo que é violentamente irreal? A comodidade dá-me comichão mas permaneço nela. Estou ansiosa e por isso gosto de nadar neste texto absurdo.

Por vezes gostava de correr pela rua, velocidade supersónica, quebrar o contínuo espaço tempo e romper com as leis da física ao ponto de chegar onde comecei, encarar o meu passado e dar-lhe um estalo por ainda estar atrás do ecrã frio e de rabo na cadeira a escrever isto. A ausência de acção deixa-me assim frenética, “frénica” ou esquizofrénica. 

Boa segunda feira, vou agora trabalhar. Tilda Swinton na imagem, título baseado nisto.

terça-feira, 17 de abril de 2012

aquela quietude



que só a Bardot transmitia e que às vezes nos faz uma falta.

[Brigitte Bardot em St Tropez em 1962]

sábado, 14 de abril de 2012

Earl Grey e Paul McCartney



















Às vezes tudo o que é preciso é apaixonarmo-nos por uma música entre chá quente e tempo hostil lá fora, em fim de tarde, para deslizar inadvertidamente em modo introspectivo. É assim mesmo e desculpem-me se deixar o meu sarcasmo e “humor cáustico” hoje à porta no tapete por um pouco.

A propósito disto http://www.youtube.com/watch?v=f4dzzv81X9w&feature=player_embedded. Johnny Depp na imagem.

sábado, 7 de abril de 2012

Escape



Finalmente o direito à serenidade (com ou sem chuva).

Joanne Woodward e Paul Newman na imagem.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Estudos (incompletos) sobre a geopolítica e gestão do quotidiano




Hoje não creio que consiga fazer uma reflexão muito longa sobre o que quer que seja - há dias e dias, e uns são mesmo assim. Seja como for queria partilhar convosco apenas este pensamento: como a gestão das nossas relações no dia a dia encontra-se geralmente comprometida num balanço precário e envolta em pequenas formas de diplomacia. Isto não significa necessariamente que as coisas precisem chegar ao estado de caos para fazermos este balanço; pelo contrário. Julgo que é uma gestão que fazemos todos os dias mal dando por isso. Mas por vezes quase dou por mim a caminhar descalça entre cacos de vidro de assuntos mal resolvidos - é enganoso, é estranho e (não devia mas) apanha-me sempre de certo modo de surpresa.  Sei que precisamos de pôr as cartas em cima da mesa, por mais triviais que pareçam, porque senão incorremos no erro de banalizar algo, de não dar a atenção ao que é importante.

Porém, sinto que ultimamente acabo sempre a contar trocos para não ficar em dívida com nada.


Mikhail Baryshnikov e Liza Minnelli na imagem. / edição tardia, adiada - estranhamente enquadrada com o post mais recente da minha querida kitch mas talvez em planos inversos; não sei se isto faz muito sentido mas mantenho.

dias cinzentos


Está um dia cinzento esbranquiçado. Corre uma aragem fria. Os prédios parecem desbotados e as pessoas mais metidas com elas próprias enquanto carregam sacos também eles desbotados num passo apressado. Não gosto destes dias. Além de ficar mais pensativa, só ouço músicas mais melancólicas. É mais forte do que eu. E aí começo a pensar demais. Uma música recém descoberta por mim de Suvjan Stevens juntamente com um dia destes e o resto do dia está minado. Uma discussão na noite anterior com o seu fofinho também ajuda. Hoje sinto-me sozinha. Ontem senti-me sozinha. E sei que no futuro voltarei a sentir-me sozinha.

Não devia estar a confessar-me aqui mas não tenho outro sítio. A verdade é que não se trata só de um descuido ou de falta de atenção. Trata-se de diferentes formas de se levar a vida, de diferentes objectivos e de diferentes formas de gerir as coisas. Provavelmente não tem valor ou significado nenhum mas o problema é que eu consigo ver mais longe, mais à frente e por consequência, receio. Continuo a respirar e a andar como de costume mas estes dias em nada ajudam e a cabeça só continua a andar às voltas.

A culpa deve ser minha. Devia ter ficado de bico calado. Quanto mais de fala, mais se estraga. Superstição sim. (Nunca aprendes a lição). Neste dia branco e acinzentado nem triste estou. Estou moída. Estou chateada e aborrecida. E até continuaria a escrever se não fosse o meu pudor em expor coisas que nada interessam.

Vou arranjar uns sacos desbotados como os prédios e juntar-me à fila de pessoas que por aí andam em passo apressado, metidas com elas próprias neste dia cinzento. Ao menos não me sinto sozinha, não penso em problemas ao som de notas melancólicas. Só queria Sol e um sítio para onde ir. Só queria que ao fim de tanto tempo isto não se repetisse. Só queria não estar assim logo hoje num dia cinzento e frio. Só não queria ter razão. E, no entanto, aguardo.

(nem consigo incutir alguma coerência na minha escrita)



[Miss Scarlet no "Lost in Translation" da Miss Coppola]