sábado, 18 de setembro de 2021

30

Mais uma noite com fumo e música e álcool. Mais uma noite com amigos e resumos da semana, conversas fáceis com o pessoal do costume e piadas leves com o pessoal que aparece pela 1a vez. (Nunca os fazemos sentir mal). Um sábado carregado de fumo e minis para uma semana de merda. É um exorcismo. Só que não é a mesma vida. Temos um bebé agora. Uma bebé fruto de 10 anos de convívio juntos. De discussões, silêncio e palavras. De amor. Desde que nos conhecemos, que sabíamos que iríamos ficar juntos. Com um bebé. E temos hoje essa bebé com os avós e a noite é nossa. Sentimos-nos jovens, livres e estúpidos. Mais uma noite com fumo e música e álcool. Até à próxima noite. Fico sozinha frente ao ecrã enquanto ele joga e posso escolher o que quero ver e ouvir que ecoa num estúdio ocupado e claro que o passado me abraça e escolho ouvir o que me fazia sentir quente há anos e que nos aquecia quando éramos mais novos. A uma semana de chegar de pés juntos aos 30, penso onde estamos e o que conseguimos. Passo as mesmas músicas para ver como me sinto e sinto as mesmas coisas: amor, luxúria, desejo, amor e amizade. Trinta anos e onze de relação. O resumo de uma vida adulta sempre acompanhada pelo meu melhor amigo paciente de cabelo comprido no início, curto nos momentos difíceis e agora novamente longo quase como uma recuperação da juventude. Não é fácil, é muito trabalhoso mas temos uma bebé linda e inteligente. Há momentos em que só apetece bater com a porta quando sinto que o caco da gata podia ter sido mudado ou a roupa apanhada do estendal sem eu ter de dizer uma palavra e há outros momentos em que páro a olhar para a família que construí e o amor aquece-me a barriga. É difícil mas é o que deixo nesta terra quando for: um amigo paciente de cabelo, novamente, comprido, com uma cabeça às vezes mais complexa que a minha e uma filha, companheira desde o dia em que soubeque existia no meu ventre, cheia de personalidade que me faz rir todos os dias. A vida é trabalhosa, dura mas bela. Odeio o meu trabalho, tivemos uma semana desencontrados emocionalmente e senti-me louca a tentar acompanhar a minha pequena na creche mas estou feliz, no fim de tudo enquanto ouço todas estas músicas que ouvia nos mesmos finais de noite no estúdio, por termos criado, juntos, esta família. Um grande amigo meu leu-me há uns tempos as cartas (tão Maria Helena) e a primeira carta que foi levantada foi a família e eu ri-me. Sim, pode estar tudo na merda mas sei que o jantar mais tarde ou mais cedo será servido à minha bebé, sei, também, que com uma semana de atraso irei fazer aquela máquina de roupa depois de uma semana a enxugar-nos em toalhas de praia e sei, também, porque enquanto feminista fodida, a minha vida não se resume a tarefas, que irei, por muito difícil que seja alinhar agulhas com o meu amor, o meu melhor amigo, o meu marido não oficial. É difícil, não me é orgânico mas sei que está sempre aqui este compasso que me atraiu para ele desde sempre mas por cá ficamos. Felizes alguns dias e cansados em todos.