segunda-feira, 29 de junho de 2009

Eu


A minha mãe bem que me avisa num tom divertido: "-Olha que já te vi a ficares magoada por causa dessas duas...". Pois já, mãe, pois já. Remato mentalmente. Sou a antisocial, sou a crítica, a que está sempre fechada em casa, a virgem ingénuazinha, a nerdzinha e a esquisita chegando mesmo a arrogante. Sou tudo isto e mais algumas coisas provavelmente, para elas.

Enquanto ia sorvendo em goles pequenos e nervosos a minha bebida achocolatada uma sessão de envagelização ia-se desenrolando sobre a mesa preta.
"-Tens de sair mais. Não podes estar tanto tempo em casa fechada. Devias conhecer mais gente. Até devias fazer isso para te habituares a fazeres novos contactos." ou então "-Estás sempre com os teus irmãos. Esta é supostamente a melhor fase da tua vida! Tens 17 anos por amor de Deus!" são as principais linhas de orientação de toda esta grande palestra que tive a "sorte" de receber destas minhas duas "grandes" amigas.
Rapidamente e num tom seco expliquei-lhes porque raio a minha vida era como era. Silêncio. Pois é meninas de sorriso fácil a vossa vidinha não é assim tão complicada. Não me chateiem. Sou como sou. Sim gosto de estar em casa e não tenho paciência para conhecer novas pessoas e sim sou extremamente crítica, temos pena. Mas sabem o mais curioso? Sabem porque raio é que estas duas alminhas têm esta visão de mim? Porque não fazem ideia de quem sou. Tal como a minha mãe disse já me magoaram muito antes e eu, esperta, nunca mais abri a minha boca. Calo-me. Ouço e calo-me. É o melhor a fazer, acreditem. Divirto-me com os seus disparates e histórias, não julgo e depois quando pedem aconselho ou comento. Mas a verdade é que nunca entro em detalhes na minha vida. Não estou para isso.
O mais triste é que o facto de terem toda esta conversa, que já não é a primeira, demonstra que não me aceitam como sou. Não me dão espaço para andar à minha vontade ou então andam à procura de alguém que compactue nas suas "loucuras". Elas até que não são más raparigas mas cansam-me com esta conversa porque mesmo sabendo que talvez não siga o comportamento padrão dos espécimens da minha idade, tentam mudar-me e isso nem pensar. Adoro a minha personalidade. Afinal de contas é só minha. Pois bem minhas caras, serei sempre assim para vós, a tontinha que nunca deu um beijo e que adora estar com o nariz enfiado nos livros.

O mais curioso é que eu não sou nada assim. Nada mesmo.
Sou calma, tranquila, nervosa, crítica, muito exigente e perfeccionista com um bom sentido de humor e com uma boa cultura geral e já tive a minha dose suficiente, por enquanto, do sexo oposto. E mais não digo.
A verdade é que não gosto que me analisem. Detesto. As únicas pessoas que o podem fazer é a minha família e mesmo assim são os meus pais que detêm o lugar priviligiado. Aquela ideia do "Conheço-te melhor do que imaginas" aborrece-me. As pessoas vão-se conhecendo, com calma, sem pressas e aí passado algum tempo é que se podem ter umas ideias, uns traços gerais. Agora certezas absolutas, esqueçam. Aquela ideia de me estarem sempre a tentar entender ou perceber mexe-me com o sistema nervoso. É aquela ideia de que temos sempre alguém atrás de nós a dizer:"-Vês? Vês? Eu não te disse? Já sabia que ias fazer isso. Estava-se mesmo a ver!".

Eu sou eu. Eu sou ninguém. Eu sou a tímida Miss Hepburn. Eu sou a divina Callas. Eu sou a ousada Frida. Eu sou a doce Mariete.

Eu sou eu.


E os outros que se danem que fazem demasiado ruído à minha volta.


*

Um sagrado bem haja


[A gerência pede desculpa pela escrita tão pobrezinha que hoje se apresenta neste post ]
imagem:Maria Callas

3 comentários:

  1. lamento ouvir-te assim tão saturada :(
    eu percebo o que queres dizer quando parece que as pessoas te "querem mudar"
    uma coisa é receberes criticas reconstrutivas outra coisa é ouvires as constantes vidinhas sociais dos outros enquanto eles metem lá pelo meio uns "tens de fazer como eu!"
    Ainda no outro dia virei-me para a madalena e contei-lhe o quão desenquadrada eu ás vezes me sinto no meio de tanta gente que gosta do "aparentar" - ai eu sou tão rebelde e roubo coisas aos vizinhos, ai eu emborco garrafas de vodka seguidas e curto bueda tipa(o)s á noite!
    Isto é o normal de hoje, de miudas e miudos da nossa idade. Eles acham que é a bater-se com a cabeça na parede que lá vão e só assim é que aproveitam a juventudo.
    Mas se pensares bem, essa gente um dia chega aos 25 e começa a pensar no que realmente obteve nos ultimos anos. Festas, gaja(o)s e borga? Isso de pouco vale rita, é tão melhor passares esses anos a ir a concertos, a escrever, a ler, a acompanhar o crescimento de quem amas e provavelmente, durante esse percurso encontraste alguém assim, que ficou para trás da manada dos normais.
    Cada vez mais me sinto orgulhosa de ser anormal e tu também te deves sentir assim.
    Beijinho*

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  2. by the way, esta é toda para ti:

    http://sofazitaphotos.deviantart.com/art/Girls-Just-Wanna-Have-Fun-127945368

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  3. e às vezes dá vontade de rugir, gritar e fazer ressaltar esse aspecto furiosamente! com muita justiça e em perfeito direito disso. é preciso não esquecer o quanto esse "eu" é profundamente precioso.

    um igual bem haja em jeito de ode triunfal.

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