segunda-feira, 4 de maio de 2009

The International_Crítica

O filme de Tom Tykwer não podia ter vindo em melhor altura. A crise económica está na ordem do dia, empresas vêm-se a colapsar e a descrença no sistema bancário aumenta.
Esta mesma descrença é aqui retratada através da investigação levada a cabo por Louis Salinger (Clive Owen), agente escocês da Interpol, a uma das mais poderosas instituições bancárias do mundo, o International Bank of Business and Credit (IBBC). Este banco desenvolve sob o seu credível nome de instituição de crédito actividades ilícitas como: lavagem de dinheiro, tráfico de armas e a desestabilização de governos de países estrategicamente colocados, entre outras ilegalidades internacionais.
Como incorrompível e imaculada organização que é retratada no filme, esta não deixa que nenhuma prova ou pista seja deixada ao acaso ou descoberta, calando de todas as formas os informadores que estejam dispostos a denunciar o banco e a prática de tais actividades condenáveis.
A perseguição levada a cabo por Salinger, homem de feições marcadas, persistência férrea e barba por fazer não se trata apenas de um simples trabalho mas de um ajuste de contas auxiliado por Eleanor Whitman (Naomi Watts), advogada assistente do Procurador Geral de Manhattan.
O facto de se tratar da Interpol e não de uma CIA ou de um FBI demonstra deste já a intenção de se explorar um novo cenário, aqui internacional, fugindo ao típico engodo americano. Esta intenção está igualmente presente na escolha dos vários cenários de filmagem (Museu Guggenheim, em Nova Iorque, Grand Bazar em Istambul, Milão e Berlim) espalhados pelo Mundo.
Todavia a crítica não deixa de ser feita, apontando a burocracia e a incapacidade de actuação da Interpol através da frustração de Salinger.
A perseguição ao dinheiro utilizado pela IBBC assim como ás escassas pistas que surgem a muito custo, levam os dois agentes a percorrerem estas diferentes cidades.Aqui a fotografia tem um crédito enorme através da excelente captação destes vários lugares, destaque para o Museu Gugghenheim e para o Grande Bazar em Istambul, quase a jeito de Danny Boyle, reforçando a coesão do argumento sem ser exausto ou confuso.
A história apesar de simples é coesa e o argumento muito bem escrito com diálogos extremamente afiados e acertivos. Bem melhor do que o argumento confuso e fragmentado do filme anterior em que Owen participa ao lado de Julia Roberts, "Duplicity".
Deste filme sai-nos um Clive Owen que agrada a todos.
Consegue render todo o "mulherio" com o seu charme de homem incorrigível e sofrido que chega mesmo a perder parte do seu lóbulo direito da orelha num tiroteio barulhento no Museu Gugghenheim.
E consegue arrecadar também a aprovação da população masculina mais céptica com a decisão da sua personagem lutar contra o IBBC pelas suas próprias mãos, facto revelador do seu carácter obstinado e da sua sede pela justiça.
Owen sai reforçado deste filme com total merecimento devido à sua imensa força motriz que leva tudo e todos atrás sem nunca cair no ridículo ou na violência exagerada.Whitman e Salinger são companheiros e colegas sem nenhuma tensão romântica à mistura com um objectivo comum reforçando a realidade e crueza da película. De tal forma que assim que Salinger leva a sua luta para o outro níval, Whitman separa-se deste.
E eis que é aqui que o verdadeiro confronto se dá com um final já esperado no sentido da palavra "vingança" porém, inesperado na questão pessoal e espiritual do nosso herói. No fim de toda aquela acção de que fomos testemunhas, Salinger parece reticente no meio de todos aqueles telhados garridos de Istambul num fim de tarde abafada quando o tiro é disparado e a bala aterra na cabeça "daquele" homem.
Neste filme apesar da expectativa em torno da actriz Noami Watts, esta não surpreende mantendo o registo de actriz simpática e insípida. É verdade que o papel não é muito exigente mas também é verdade que é esta a mesma actriz que singrou com papéis muito mais intensos em filmes como "21 Grams" e "The Painted Veil".
Participa ainda nesta película o veterano Armin Mueller-Stahl ("Shine" e "The Game"), no papel de Wilhelm Wexler que apesar de ser um papel curto não deixa de ser sabiamente interpretado, como é de se esperar.
Pode-se afirmar que apesar de não ser uma grande obra prima ou mereçedor de Óscar, é um filme muito bem feito e escrito que consegue retratar com exactidão toda este mundo escondido, secreto e silencioso, superior a todos nós, comuns mortais, mas que negoceia "debaixo" de nós.
*
[Sim está grande e sim está coxo. Não me interessa. Digam apenas o que acharam]

3 comentários:

  1. um bem haja a mim que te falei na cover a ti, e suponho que ao artur por me ter mostrado a música pela primeira vez na hungria. .__.

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  2. a critica está muito boa, sem dúvida: não lhe falta nada e, de facto, a estruração é exemplar. penso que tu achas que ela parece "coxa" porque os teus próprios padrões são elevados.. o que até se percebe já que vi que consegues chegar a fazer artigos de opinião absolutamente fora de série! (ver critica do Milk p.e)

    se me perguntares, a diferença está naquela paixão bruta, intuitiva e fluida que transmites depois de veres algo que realmente gostas - directamente da ideia para o papel.

    de resto, mantenho que é uma crítica muito boa.. claro que perante os olhos de comuns mortais. *

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  3. muito obrigada curlis
    espero que essa paixão nunca me abandone porque é ela a razão de tudo, sabes?

    no final desta crítica n sabia muito bem o que faltava mas depois quando me disseste tudo ficou claro... :D

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