quinta-feira, 21 de maio de 2009

"Alienismo"

Escrevo porque torna as coisas mais claras, límpidas, concretas. O paradoxo que aqui se põe é que eu, sobre as nulidades que nada têm que se lhe diga, sempre sei elaborar uma tese de contornos surreais mas ainda assim firmes e convictos, como forma a preencher um assunto que não tem assunto.. mas por outro lado, fico completamente em branco e desamparada quando preciso de escrever sobre algo mais intimista, mais próximo e mais "meu" (e quando digo isto, não me refiro ao eu teórico, sobre o qual muito divago, mas ao eu sentimental, claro).


A verdade é que fico perfeitamente em branco quando pretendo falar dessa parte. Contudo, e agora penso, a razão para que talvez isso aconteça seja porque, genuína e honestamente, os sentimentos que deviam dar origem e conteúdo a tais reflexões.. não estão lá. Ou então, se estão lá, estão adormecidos. Sim - posso mesmo apostar que estão adormecidos.

A questão é que nunca me considerei uma pessoa fria, nunca me vi como alguém mais racional que sentimental, nunca sequer me visualizei como quem toma uma atitude tão distante. Eu lia os romances de adolescentes que enchiam as minhas prateleiras quando era miúda e imaginava que era romântica - não estava apaixonada mas sabia que o era, pois desprezava o conceito de "curte" e queria mesmo era algo com significado.
Contudo, se há uma coisa das mínimas que consegui recolher pela experiência, é que tudo aquilo que julgamos ser numa situação.. não somos. Pelo menos não fui em vários momentos e nesse campo.. nesse campo é incrível tomar finalmente plena consciência de até que ponto isso é verdade. Paro - preciso de parar e, mesmo que me digam para não pensar, preciso de pensar. O que eu acho que vocês não sabem, não se lembram - não interessa (!) - o que é ser um individuo que, na sua vertente mais pura e genuína (a emocional) é no fundo um perfeito alienado.

E chegámos à palavra que procurava: alienado. Ser alienado é ser desligado: e é assim que estou, e é assim que sou. Talvez seja um método de defesa (tenho aliás a certeza que é) mas penso que o tempo tornou esta característica parte dominante da minha personalidade. A pergunta que se impõe é saber se não se tornou também parte definitiva dela - e disso começo a ter pavor.

Por outro lado a palavra remete para uma associação óbvia e quase intuitiva: alien. A impressão que eu tenho por vezes nesta matéria é de um profundo e complexo.. isolamento. Como se estivesse numa bolha em que oiço e compreendo o que se diz mas a partir da qual não consigo expressar a essência do que acho.
Por isso foi ainda mais inconcebível achar que alguém poderia gostar de mim. Não em termos racionais, não em termos teóricos, mas pela confrontação efectiva de que alguém gostava de mim - como eu sou e pelo que sou. Só agora percebo quão assustador é este conceito.. o quão grande. como me conheço tão bem a mim e aos meus defeitos e por estar habituada a pensar que nunca sou eu o centro da questão não deixa de ser estranho. Enfim, só nunca concebi que alguém perdesse o sono por minha causa. É surreal.

E contudo, eu vou descartar essa pessoa. Friamente, fútil e cruelmente o digo nestes modos, aqui, (que é o escape que as palavras por dizer não permitem exprimir de outra forma) mesmo que não o tencione fazer de forma fria, fútil e cruel. Não - já não sou uma puritana à procura de uma união perfeita (pelo contrário) mas só tenho um requisito: é que exista uma base, uma intuição, uma mínima vontade. Como não é o que acontece e por haver uma série de outros factores (looongos factores), então encerro aqui o meu caso e, ironicamente, trato dele alienada. Mas sabem que mais? Nem vou ficar com remorsos por isso.

E só isso me dá, mais uma vez, o suficiente para pensar.

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