quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Fase Silampos



É verdade meus caros, tenho-me inibido de sentar e escrever efectivamente alguma coisa estruturada e concreta, na expectativa que desse de mim pelo caminho. Mas não. Em vez disso, esta fase é puro caos sem pernas nem cabeça, lei ou regra - e a desenrolar-se em modo slow-motion (ou a uma velocidade estonteante dependendo do modo como o encararmos) por duas semanas. E como já percebi que este caos se manterá assim por um longo tempo, que se lixe, vou abraçar o caos.

Porque não? No meu caso então é puramente cíclico, este simplesmente vem até mim. É claro que me vou lixar, assar e romper - algures. Mas por agora quero-me achar ainda capaz de entender toda esta confusão da faculdade (não mais do que a esperada ainda assim, como assim) como parte integrante do processo e lidar com ela em vez de lutar contra ela. A sério, venha daí! Caos comemos nós barrado nas torradas com duas chávenas de café logo pela manhã (ou pelas altas horas da madrugada a acabar trabalhos)! E claro que perco o meu direito natural a queixar-me no meio de tudo isto, mesmo perante mim própria, o que é mais curioso: eu é que não devia procrastinar, eu é que tenho o privilégio de estar a fazer algo que gosto, eu é que preciso de fazer nada mais do que o que é exigido. Basicamente esta é uma fase Silas, um longo período de martírio prolongado (e muitas vezes desnecessariamente auto-infligido) que no fundo não deixa de nos dar uma pitadinha de pica e prazer.

O problema é que estou por arames - e sem exageros. Não por trabalhar contínua e arduamente a longo prazo como devia, mas por ter apostado num médio gás e na adrenalina furiosa do final que aqui não funciona; como podia? Não há trunfos e na volta as cartas que tenho são só palha. E agora estamos quase no fim do primeiro round e eu pergunto-me.. "Porra. Para onde raio foi este primeiro semestre?!"
Dá-me vontade se sair da minha pequena trincheira, levantar os braços no ar e dizer de bandeira branca "Ok pessoal, agora já aquecemos e percebemos mais ou menos as regras do jogo. Podemos então começar agora a jogar a sério?".

São outras as expectativas e prova disto é esta entrada em 2010. Por cada novo ano existe esse ritual de falsa ingenuidade forçada que consiste em prometermos a nós próprios cumprir toda a lista de resoluções que temos em mãos. Como se o ano do qual saímos fosse um caderno de argolas cheio de rabiscos confusos, a maior parte dos quais não temos orgulho que valha, e o ideal fosse mesmo arrancar essas folhas e passar para a próxima primeira página tão limpinha e ainda não profanada.. o que vistas bem as coisas é um pensamento perfeitamente idiota. Porquê esperar por 1 de Janeiro para começar aquilo que não conseguimos fazer nos restantes 365 dias? Eu, nesse aspecto, costumo cair flagrantemente e sem falha nesse "erro". Erro não é tentar melhorar: erro é pensar que o adiar de hoje não é igual ao de amanhã.

Pois para este ano, logo à partida, sentem-se que as coisas estão noutro patamar. Enquanto geralmente pensava no "brilhantismo" do muito que teria inevitavelmente para fazer, para esta entrada reduzi os meus parâmetros a pelo menos perspectivas mais terrenas: se conseguir cumprir os mínimos (que já são altos) feliz de mim. Se o conseguir (!) será mesmo o ideal dos ideais.
Talvez seja arrogante da minha parte dizer isto, mas mesmo a minha passagem de ano foi esse misto de espanto com cepticismo - Bruxelas, um frio do caraças e a aguardar com expectativa as baladas da meia noite na Grand Place. Ora a meia-noite chegou, as pessoas festejaram mas do fogo de artifício só um ruído distante. E quem sabe isto não é representativo de um prenúncio: muita euforia por esta fase e afinal sem fogo de artifício.

Mas azar. É mesmo assim, e eu prefiro que seja a doer um bocadinho por agora do que prolongadamente de cara espetada no chão à espera que alguma coisa aconteça. O que

(no fundo)

ainda espero.

Boas entradas meus meninos e fé na humanidade. Para trás ficam apenas coisinhas dispersas: o tom genial mas também leviano das crónicas do Tubo de Ensaio II do Bruno Nogueira e João Quadros, as palavras (in)quietas e meio soltas de António Lobo Antunes para a visão e que tão bem se ajustam ao espírito moody desta sexta feira à noite, ou o recém estimado e pequeno (novo!) mac.

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