domingo, 14 de junho de 2009

Anti Pessimismo

Recuso.me a ser pessimista.


Na sala, um estranho cenário se desprende de todo o espaço: livros de português e manuais de história de arte diversos acumulam-se no chão, nas mesas de apoio e no pequeno sofá de leitura, em canto discreto da sala, acompanhados talvez de um cobertor vadio que ora aparece ali, ora muda de lugar conforme as disposições. Ao longo da divisão constata-se o mesmo caos – a guerra é a mesma mas as batalhas é que são outras: estiraçado noutro sofá, debate-se a anestesia e outras matérias médicas que tal, dispersas em folhas sublinhadas e em manuais de tamanho excessivo e, ao longe, na sala de jantar é ver a mesa ocupada com o português e as matemáticas intensivas de nono ano. Nunca numa casa se viu tanta mulher a estudar junta no mesmo período de tempo. Da cozinha chega o cheiro distante (e o fumo) de carne e enchidos grelhados. Pudera, o único homem aqui virou senhor da lide doméstica, nestes dias de tão intensa ansiedade e os papéis, esses inverteram por completo qualquer estereótipo.


Mistura-se um suave perfume a incenso no ar, a música alterna entre CD’s e ipod e a janela aberta deixa entrar moscas mas não brisa. Abafado. Está tudo abafado e parece tudo… parado. A única coisa que não pára é o tempo e esse, que é precioso, escapa sem dó pelos números dos relógios. Nem uma brisa. A roupa cola-se ao corpo (já nem os calções de pijama são salvação) e os banhos tardios (de deitar e levantar a horas igualmente tardias) não parecem lavar o cansaço ou trazer aquela sensação própria de frescura que deveria existir em quem sai de duche. Até o tempo é um céu de cinza indefinida.

Eu sei que, algures, Pessoa sorri da sua campa mais a sua dor de pensar. Se as circunstâncias actuais ajudam a passar as suas filosofias, então está a resultar: também me cansas amigo.

Eu também gostava de não pensar no exame e cá estou eu.

Mas recuso.me a ser pessimista (como tu).

[Ewan McGregor na imagem]

*

2 comentários:

  1. O cenário por estas bandas é semelhante, tirando o facto de o único homem desta casa continuar esparramado no sofá e eu ser a única cuja divisão (que não é a sala mas sim o meu quarto) estar um caos de dossiers, folhas, apontamentos, canetas e livros. A intenção para estudar é patente mal se entra no meu cúbilo abafado, que nem as janelas abertas ajudam,a vontade é que já é outra história.

    Bom estudo, sim? E um beijinho real *

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  2. Um dia quando deixarmos mesmo de estudar e sequer de saber faze-lo, vamos sentir-nos nostálgicas!
    Pelo menos, é isso que a minha mãe diz .__.

    Boa sorte com HCA maggie *

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