domingo, 26 de abril de 2009

Porque gostamos de meninos despenteados que saltam de pianos.

Porque gostamos muito, muito deles.



Pelo menos eu sei gosto, bastante.. ainda. Mesmo após estes três (ou mais?) anos de ter ouvido pela primeira vez as músicas de Jamie Cullum.

Sim, é ele mesmo - esse rapazinho twentysomething (que curiosamente chega aos 30 este ano!), descabelado, de all star preparado, piano às costas, timbre característicamente ingénuo e um novo jazz, fresco, criativo, irreverente e criado a partir da miscelânea confusa (mas incrivelmente atraente) do melhor dos clássicos do género com a atitude da pop contemporânea. Não há forma de vos falar deste jovem Brit sem o tornar pessoal, nem eu queria fazer esta crítica de outro modo. E no entanto.. não sou fanática, não de todo. Digo.vos isto porque já passei essa fase de coleccionar posters, guardar todas as imagens possíveis da internet, ver as actualizações constantes do site oficial e esperar por toda e mais alguma novidade.. com outros artistas e noutros tempos (longínquos, agora visto ao longe).

O que sinto pela música e Jamie Cullum, no entanto, é uma simples e profunda adoração. Não um entusiasmo desproporcionado nem histérico, não uma necessidade constante de ouvir as canções vezes e vezes sem conta, não uma devoção religiosa e de culto ao artista e a tudo que o envolve - nem a minha personalidade se enquadra já nesses termos, nem a música o incentiva. Mas é uma adoração porque as músicas continuam a dizer.me o mesmo que diziam na altura, o seu valor e a forma como me deixo levar por elas não cansa nem passa do prazo de validade e, ainda hoje, consigo descobrir novas nuances nos tons, nos toques erráticos de piano e neste ou naquele ponto em que a voz rouca traz consigo a sensibilidade de algo maior e melhor.

Ouvir a música de Cullum é como voltar a casa:


encontrarei sempre nela conforto, preencher.me.á ainda as medidas e, quanto mais não seja, marcará uma fase que associarei sempre a coisas mais claras, mais leves e mais frescas.


Isto aconteceu da forma mais subtil e casual possível: um presente que tinha de comprar à minha mãe, um tiro quase completo no escuro à parte de uma entrevista que vira e que pouco ou nada me dizia. Dessa fase só conhecia o óbvio Everlasting Love que ecoava de tempos a tempos nas rádios. E depois uma coisa puxa outra.. um dia tira.se o disco para ouvir qualquer coisa enquanto se estuda, ouve.se, estranha.se e por fim entranha.se. Uma música, outra.. (esta aqui também é bem interessante - deixa.me ver a capa para procurar as letras). E quando damos por nós lá está o pequeno cd de um lado para o outro no nosso antigo discman - porque nesses escassos três anos passados era o que imperava ainda).

Catching Tales foi o primeiro álbum e por isso, afectivamente, o melhor para mim. Caramba, desse disco pouquissímos são os hinos que ficam de fora sem serem considerados "espectaculares": é impossível dar a volta à nostalgia que é ouvir o poder quase imutável de 21 Century Kid e Oh God ou a energia de Get Your Way (primeiro grande amor) e Nothing I Do. Sei que estou a entrar por campos em que o que falo pode parecer chinês mas não consigo evita.lo. A capa e os grafismos eram originais, as letras faziam sentido e a combinação se sons tinha um travo dificil de largar.
Seguiu.se a descoberta dos álbuns anteriores pelo sentido inverso à sua saída: Twentysomething e Pointless Nostalgic. Levavam mais algum tempo a assimilar mas, quando dava por isso, já estavam plenamente enraízados nos meus gostos de uma maneira tão despreocupada e familiar que perdurou até então.

Não sei se quando sair um novo cd o sentimento perdurará, não o consigo garantir. Mas sei que é inevitável eu me livrar desta minha própria atitude de pointless nostalgic com tanta facilidade, se estas canções me acompanharam por momentos felizes, melancólicos, pensativos, despreocupados, ansiosos. E sei que se o rapaz voltar cá não perco essa oportunidade nem por nada, como aconteceu antes - lá estarei com tudo trauteado e sabido de trás para a frente.

Fica também de salientar a última colaboração deste miúdo para a banda sonora do mais recente filme de Clint Eastwood, Gran Torino, e a sua igualmente incrivel habilidade para as covers - o que, a par do facto dos sacanas do Youtube terem retirado alguns dos melhores videos dele, é mesmo isso que vos dou a ver. Misterious Ways dos U2 e uma mãozinha das Sugababes no final:




Disfrutem que é para isso mesmo.
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