quarta-feira, 22 de abril de 2009

Impulsos Errantes ou A Teoria dos Homens e Livros


História velha..

Uma manhã na paragem de autocarros, como de resto em tantos outros dias, e já o primeiro cheiro a verão fazia.se sentir a par da luz limpa e fresca da das 9h e tal da manhã. Ouvi o comboio passar ao lado - o acontecimento mais banal possível já que a estação ficava a curta distância e ruído era longínquo, quase sem se notar ou captar alguma vez o menor interesse. E, contudo, tudo nesse momento foi diferente; não sei porquê mas sei que o foi - dessa vez reparei e tive uma certa percepção, um impulso.

Não sei se perceberão o que quero dizer com isto mas, de um momento para o outro, foi como se tivesse aberto os olhos: apercebi.me na altura de que tinha toda a liberdade que quisesse para apanhar aquele comboio.

Chamo.lhe percepção e dou.lhe importância porque não foi uma simples ideia: foi algo instintivo, repentino, inesperado e em estado bruto. Estava lá e só precisava.. de fugir ao sistema e à ordem das coisas. Caramba, só precisava de um empurrão e estava lá!

O meu autocarro chegara entretanto: avancei para ele e apercebi.me de imediato que, a partir do momento em que me começara a dirigir para ali, que não. Que não ia mudar de direcção, que não ia sair da minha bolha resguardada e que, afinal, não iria a praia nenhuma só para me sentar lá sozinha e aí ficar perdida em pensamentos.

E foi o fim deste pequeno conto: talvez a ideia pareça uma loucura e talvez (com grande probabilidade até) o seja de facto. Mas a verdade é que, um ano depois, este pensamento volta de tempos a tempos à minha cabeça, com maior ou menor expressão. Ainda não apanhei o comboio sem destino mas tenho pensado em fazê.lo. Sinto que algures, há vida por aí e eu ainda não reparei. Se a encontro num devaneio desses ou não, não sei mas prefiro pensar em comboios que partem para a algures a histórias que se repetem em círculos concêntricos.


Hoje voltei a ficar embuída desse espírito.

Saí de casa e comecei a andar a pé: tinha bom tempo e tempo livre, a mais maravilhosa das combinações, e o rumo era irrelevante. Eram 7h por essa altura o que me reduzia a margem de manobra para ir de facto a algum lado e disfrutá.lo.. mas continuei a andar - era impossível voltar atrás nesta parte do campeonato e de resto não iria dar parte fraca.

Foi por isso com algum alívio que me refugiei com o que vi à frente: uma feira do livro. Plano feito: compra.se o livro e lê.se.o diletantemente no café mais próximo. É claro que não contava em demorar tanto tempo a escolhe.lo.. prolonguei ainda mais os minutos finais porque parecia mal levar uma compilação das melhores crónicas do programa da TSF, Tubo de Ensaio, de Bruno Nogueira e João Quadros (livro que, para o cúmulo, acabei mesmo por comprar), depois de ter parado e folheado uma série de obras de conteúdo provavelmente profundo ou mesmo interessante. Mas é a vida.

Foi no meio deste pensamentos emaranhados sobre destino errante, livros a escolher e acção espontânea que me lembrei com grande convicção daquela teoria minha sobre homens e qual os livros, no que toca a não conseguir escolhe.los pela capa:
o aspecto por fora não está em relação proporcional com o interior, as opiniões que formamos sobre eles demoram tempo a construir (ao contrário de um filme que, em 3h no máximo, já tem veredicto feito) e, ao olhar para incrível diversidade que existe, é quase impossível perceber o que irá ser mesmo bom para nós. Se ao pegar e folhear aquele livro, não seria aquele livro, e se ao olhar de relance para aquele rapazinho na rua, não seria porventura aquele rapazinho.

Raios parta, a minha relação com a leitura e os homens anda de braço dado; resta saber se vai aparecer por aí uma besta a competir com o Memorial do Convento.

E portanto estão a ver como isto acaba: fui embora com um livro light e sem lanche. Mas comboio há.de ficar prometido para outra oportunidade.. talvez. Com um par de cohones al plato e talvez consiga seguir pelo caminho com menos gente, que isso fará toda a diferença.


Pelo menos disse.o um poeta qualquer. Culpem.no a ele.


P.S: desculpa pela crónica mal passada: saiu longa e querendo vingar a crónicas omissas de teorias e factos por contar.

P.P.S: ao menos comprei uma coisinha que gosto e me faz rir.. algures REM canta Orange Crush repetidamente
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