domingo, 27 de maio de 2012

A não linearidade.





















Pois é, há o trabalho das últimas semanas como sempre e falta-me honestidade para dizer que está tudo sob controlo. Não está, serão muitos serões de queimar a pestana e este será um deles. É sempre o caos de última hora, mas é também um caos acompanhado do brisa de verão e da perspectiva do que vem a seguir.

Delinea-se um plano geral, ainda que vago para a férias, na promessa tentadora de tudo o que podemos fazer depois da purga das avaliações. Sonhamos um bocado aqui e ali, outras coisas tornam-se mais concretas, e outras ainda já me causam um formigueiro na superfície da pele só de as antecipar. Claro que a minha eventual ida para Nottingham em Erasmus se afixa nesse último capítulo, e digo “eventual” porque depois dos inúmeros contactos (muitos sem resposta) e diligências formais lá fiz e mandei as minhas coisas atempadamente - mas ainda não tive “a” confirmação final que só sai depois de dia 30 (esperemos). Portfolio revisto, refeito e reimpresso, formulários preenchidos e a carta de motivação, coitada, lá foi ainda um pouco murcha mas melhor do que no primeiro rascunho. Duas tardes inteiras para conceber uma folha A4 é algo estranho e mentalmente frustrante, no mínimo, porém o meu problema era de facto uma súbita falta de fé naquilo que iria dizer. Afinal como escrever uma carta de motivação com motivação incerta sobre que estou a fazer?

Mas a questão é esta. Não há apenas uma resposta para as coisas, nem uma linearidade absoluta no que fazemos. É verdade que eu não sou uma pessoa de princípios e aspirações “milimétricas” e a ideia de um certo desconhecimento de causa continua a assustar-me. Todavia cada vez me apercebo mais que não há vergonha ou miséria em seguir um caminho ligeiramente diferente daquele que originalmente delimitamos para nós desde que tenha um rumo, como me diz o Tomás com razão. E honestidade. Acho que nem me tinha apercebido da importância dessa afirmação e das implicações finais que esta acarreta.

Há um ano e pouco escrevi precisamente sobre a minha tentativa falhada de ingressar em Erasmus. Mas o post NÃO era sobre o Erasmus, senão em plano de fundo, e nunca o pretendeu ser apesar de se poder ler como um capricho em função disso. O que esteve em causa, isso sim,  foi a forma como as nossas acções viciadas (no meu caso, a propensão para me sabotar adiando compromissos compulsivamente) podem ter um impacto muito concreto na estratégia desenhamos, e como pequenas coisas podem afectar brutalmente um plano maior. Estava também em causa o facto de achar que tinha perdido uma oportunidade que era daquele preciso momento e que poria em cheque uma série de outras opções em cadeia.

A verdade é que pôs, e mudou muito mais do que poderia supor daí para a frente. Lembro-me do serão tardio no Starbucks de Belém em que fui ter com a minha querida amiga cronista e ela, das várias palavras certeiras, disse-me “se calhar isto não estava destinado”. Voltei a desfazer-me em lágrimas de ansiedade e frustração - de facto, já tinha ouvido esse mantra de várias formas ao longo dos anos e cada vez ficava mais céptica. Continuo sempre de pé atrás em relação à noção de destino já que pode ser a premissa para desvalorizar a responsabilidade das nossas acções. Mas a verdade é que, porque não fui fazer Erasmus nesse ano, aceitei a viagem de interrail no Verão que tanto prezei; foi por isso que logo depois comecei a namorar com alguém que me continua a surpreender e apaixonar, ao longo destes “otto&mezzo”; foi por isso que tive um dos anos mais difíceis mas igualmente mais interessantes no meu curso - que agora não dispenso. O meu professor introduziu o semestre com “provavelmente muitos de vocês não vão estar a fazer isto, vão seguir outros caminhos, especializar-se noutras coisas - mas o importante é que vocês compreendam durante este ano o que querem ou não fazer”. E o que poderia ser aterrador tornou-se para mim libertador.

Não sei se há uma ordem maior por trás das coisas que fazemos. Não quero com isto desculpar os meus erros sem aprender com eles, porém, há muito trabalho e para além disso há outra coisa que ninguém gosta de admitir - sorte. Só quero dar a entender que estamos minados de falsos becos sem saída, que há outra forma de fazer as coisas. Desde que nos mantenhamos honestos talvez nos consigamos orientar.

Sem comentários:

Enviar um comentário