sábado, 22 de outubro de 2011

No (fim) era o verbo


Tenho tido uma dificuldade tremenda em saber o que escrever aqui nos últimos tempos e nem é porque não tenha nada para dizer – pelo contrário. Porém sinto que ou não me consigo exprimir exactamente como quero por palavras ou que pura e simplesmente não o quero fazer. Mas a verdade é esta: é que a palavra tem um poder, e esse poder (pelo menos mentalmente) para mim é imenso.

É uma coisa muito pessoal, admito, que em mim adquiriu contornos quase supersticiosos pelo menos se eu souber que essas palavras vêm de forma sincera. A razão pela qual eu não vendo adjectivos e elogios, ou os dou facilmente de mão beijada, é porque assumo que a relação que tenho com determinadas pessoas já está de tal forma consolidada (ou por consolidar) que estes são quase implícitos; que quando vêm podem ser tardios mas de um lugar absolutamente honesto. Pelo mesmo motivo existem termos aos quais associo uma aura quase sacra, pois nunca vêm sós mas sempre acompanhados de algo muito maior: a confirmação efectiva de algo e as consequências que isto implica – com tudo o que tem de bom, mau e de imprevisível.

Para mim falar ou escrever é dar corpo a algo, assumir um modo de estar e, acima de tudo, admiti-lo perante mim mesma. O sarcasmo cai-me bem, aliás, porque permite-me jogar com esses duplos sentidos sem que me exponha com total vulnerabilidade. Por outro lado, verbalizar é racionalizar. E eu nos últimos tempos tenho feito um esforço brutal para me desligar desta minha faceta. A frase e a palavra são uma forma de dissecar, analisar e expor de forma absolutamente asséptica e ordenada os meus pensamentos, de os compreender. Mas por vezes é mesmo bom não mexer de todo nas coisas. Ser presente, intuitiva, despreocupada, tola ou ingénua trazem-me uma clareza de espírito estúpida que vinte anos de reflexões e debates não acalmaram (como já Pessoa dizia). Penso que é uma forma de estar bem, de ser feliz nem que seja no presente... e de momento não me interessa muito mais.

Esta é pois a minha verdadeira reflexão de vinte anos que tenho a fazer, se ainda não o fiz antes. O equilíbrio entre todas as partes é, mais do que nunca, precário mas acho que vale muito a pena. Agora, não me peçam para mudar da noite para o dia e os julgamentos (muito fáceis) e rápidos são puro ruído mas lembram:


no meio do caos eu mostro o que quero, a quem quero; o resto vem (evidentemente e honestamente) por acrescento.


Fabrizio Moretti e Biki Shapiro na imagem.

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