sexta-feira, 29 de outubro de 2010

De raspão



Foi algures na semana passada que voltei a ter um daqueles encontros casuais quando ia a sair do metro do marquês.

O rapaz estava ali na fila para apanhar o mesmo autocarro que eu, e mal o ia reconhecendo: era um daqueles colegas de infância que já não se vêm genuinamente há muito tempo e que depois voltamos a encontrar do nada, por mero acaso. Este já não o via desde o sétimo ano, ou algo parecido (há uns quase sete anos, será possível?) e as memórias que tinha deste miúdo vinham dos tempos da infantil até ao colégio, nem todas fazendo-lhe necessariamente justiça diga-se verdade. Por alguma razão, a lembrança que me vinha imediatamente à cabeça correspondia a uma fase de baralhos magic no chão, corridas de um lado para o outro e quando os rapazes roubavam os sapatos e as malas às raparigas no corredor para se porem a fugir de forma maníaca... True story. E, estranhamente, não há tanto tempo quanto isso.

Ele está bem, a tirar arquitectura no ISCTE e tinha projectos em mão para trabalhar durante aquela noitada (mais uma em branco, dizia). Enquanto falava sobre eventualmente estagiar num sítio qualquer e das cadeiras de matemática que tinha no técnico, eu não pude deixar de sentir uma certa estranheza por responder que lá ia indo bem, na Faculdade de Belas Artes a tirar Design de Comunicação. Agora, não me interpretem mal. Adoro aquilo, cresci bastante e estou mesmo a fazer algo que gosto. Mas penso que o que me levou a ter esta sensação em primeiro lugar foi o facto de me lembrar deste meu amigo como uma pessoa meio distraída e com umas notas apenas razoáveis (não sei, talvez a memória me engane), e vê-lo agora num cenário onde não o imaginaria desconcertou-me de certa maneira.

Embora esteja feliz por ele, principalmente nestes encontros de “que é feito de ti e o que andas agora a fazer”, não consigo deixar de pensar que, quando falo de mim, isto não é exactamente o que as pessoas estavam à espera. Ou melhor: que talvez isto não seja bem aquilo que eu estava à espera para mim. É estranho não é? Provavelmente é este meu forte carácter de constante indecisão e confusão a falar mais alto mas não consigo deixar de pensar no “e se” destas coisas: se a incerteza é por culpa do curso em si, de mim e da minha capacidade de trabalho ou de ambos - suspeito da última. Contudo, como lhe disse as coisas vão indo bem e não sei quantas mais vezes já repeti isto. É verdade mas uns dias mais do que noutros.

De resto, foi bom tê-lo apanhada na viagem de autocarro. Eu geralmente fico de pé atrás com pessoas que não vejo há muito tempo, não sei bem como as abordar e nem sei como se vão comportar, mas fomos relembrando bons pormenores e pessoas perdidas no tempo. Uns o que andavam a fazer, outros completamente já sem rasto. E não há nada mais curioso que ver como as coisas mudam no espaço de poucos anos, como as relações de amizade se alteram de tão voláteis que são, e como as pessoas acabam por evoluir muitas vezes de formas inesperadas.

É curioso e resta saber que raio será de nós aqui a uns anos.


Winslet e Dicaprio na imagem.

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