segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

MILK_Crítica

Eis aqui a crónica que vos prometi assim que a vergonha virasse costas por beves instantes. Pois que ela esta a coçar o olho e eu lá me escapuli...

MILK!

É a palavra ordeira ao longo de todo este biopic realizado por Gus Van Sant, rompendo a tela através de traços branco hospitalar e azul celestial, quase como um aviso para a energia e movimento que aí vêm!

Surge-nos aqui um Penn mais solto mas igualmente afectado de gestos por vezes tímidos variando em languidez, mas sempre num registo espectacularmente diferente. Agarra o papel com um vivacidade tremenda, valendo-lhe como se viu, um nomeação, das oito que este filme arrecadou, para melhor actor nos tão esperados óscares.

Actor de igual atenção é o jovenzinho Emile Hirch, anteriormente o jovem rebelde e fugitivo de "O Lado Selvagem" onde curiosamente trabalhou pela 1ª vez com Sean Penn. Emile Hirch mergulha numa personagem completamente solta, louca, divertida mas simultaneamente complexa e insegura provando mais uma vez a sua capacidade camaleónica.

É de salutar o filme no seu todo onde várias interpretações (o intenso Franco, o trágico Diego Luna, a firme e curiosa Alison Pill e claro o tão carismático Brolin), que seguem o seu próprio destino, se unem todas para o mesmo ou melhor pela mesma pessoa: Milk, contribuindo, assim, para o ambiente de contra-cultura e revolução bem como de convívio.

"40 years old and I haven't done a thing". Além de ser o "motor" de toda a "obra" de Milk, quer no filme quer na vida real, é conclusão a que chega aquando o seu 40º aniversário, levando-o a mudar-se para São Francisco com o namorado da altura, Scott Smith (James Franco). Juntos decidem abrir um loja de material fotográfico em Castro Street, no coração daquele que se estava a tornar num bairro gay.

É neste bairro que Milk ganha popularidade junto da comunidade gay e lésbica através do seu activismo em prol dos direitos destes, iniciando de uma forma crescente ambições políticas para ele, até agora, inexploradas. Tal foi a sua popularidade que Milk chegou mesmo a ganhar o "título" de mayor de Castro Street, reflexo do apoio e incentivo da comunidade crescente que o fez ser eleito à terceira tentativa, para o cargo para o Conselho de Supervisores da Câmara de São Francisco, um dos pontos altos do filme. Faz-se então história! Não só baseou a sua acção de supervisor na luta contra a aprovação da lei que condicionava aspectos como a habitação e emprego com base na orientação sexual, (uma das lutas principais do filme) como impulsionou também programas de apoio e benefício das minorias, trabalhadores e idosos, fortalecendo, ainda mais, todo o carinho e apoio conseguido até à data.

Tal como o filme relata, Milk seria assassinado em Novembro de 1978 na Câmara de São Francisco, juntamente com o mayor George Moscone, por Dan White ( interpretado por Josh Brolin) que após o abandono do Conselho de Supervisores e consequente tentativa de regresso que Moscone inviabiliza, o tornam descontrolado e enfurecido. O filme termina com a morte de Milk mas no contexto real a trama estende-se por mais um pouco com o julgamento de Dan White, concluindo o processo que o réu estaria com as suas faculdades diminuídas devido ao excesso de junk food! Dan White acaba por se suicidar em 1985.

Aliado à história verídica, ja por si só poderosa, eis aqui o típico grafismo de Gus Van Sant variando desde planos em slow motion (cena da morte de Milk), lettering e cores fortes (cartazes das campanhas) incluíndo logicamente imagens e vídeos da época acabando em mensagens inteligentemente subentendidas através de símbolos ou até mesmo música (relação de Milk com a ópera) não esquecendo do jogo entre o filme e a fotografia tiradas pelas próprias personagens em várias cenas.

É ainda meu dever de chamar a atenção para os mais sensíveis que tencionem ver este filme visto que Penn partilha umas quantas cenas "próximas" com Franco e Luna que requerem um certo distanciamento. Não me refiro ao facto de serem íntimas e de se desenrolarem entre dois homens, afinal de contas o filme é sobre isso mesmo (!), mas pelo facto de Sean Penn ter abandonado por completo a sua "rede de protecção" e para pessoas como eu que estão habituadas a vê-lo em papéis de típico homem ou mesmo personagens com algum charme, este é de facto o filme que acaba com todas essas ideias anteriores, pondo-o imediatamente na corrida ao òscar.

Numa linha final, apenas aconselho-vos a ir verem este filme porque vale mesmo a pena, entretanto para quem não tem tempo ou está fraco de dinheiro, deixo-vos aqui o trailer.


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