[It's a Wonderful Life" de Franz Capra]
Frankly, my dear, I don’t give a damn.
[Vivian Leight e Marlon Brando em "A Streetcar Named Desire"
[Os grandes Flight of the Conchords na imagem. Sinto-me de momento demasiado espantada por esta reflexão e demasiado estupidificada pelas horas para escrever algo coerente.]
[Amanda Seyfried na Vogue italiana dec09]
Com pouca ou quase nenhuma edição. E ainda com o grande risco do título pouco se relacionar com o texto. As minhas desculpas sinceras.
[Helena Bohan-Carter]
E desculpem a dísparidade de registos no mesmo dia. Não há direito mas às vezes é mesmo assim e não de outra forma.
Cá ando, mais activa do que há muito tempo e mais consciente também (pequenos passos, pequenos passos). Hoje foi apenas mais um desses dias que me encheu com uma boa e tão proveitosa e memorável experiência nesta área: foi-se a ver, e acabei por participar num workshop aliado à iniciativa da Experimenta Design e daCoca-Cola (Light) Gosta de Ti.
A premissa foi relativamente simples: perguntaram se haveriam uns escassos nove eleitos que se queriam voluntariar para o projecto - com bonus de dia sem aulas justificado - e lá alinhei. É claro que de tão esperta que sou, que acabei por ficar meia-hora perdida em ruas avessas e estreitas de Lisboa, para cima e para baixo, até dar com o malfadado lugar.
Mostraram-nos a exposição e explicaram-nos os conceitos - a nós e a mais outros tantos gatos pingados de design e design de comunicação de outras universidades que também lá estavam. Do trabalho, o desafio exigia que num tempo relativamente curto nos organizássemos em grupos e, com uma palavra-chave aliada à própria coca-cola e com material recolhido pela campanha, formássemos um objecto completamente novo.
Juntei-me a um rapazito da minha turma e a três meninas de belas-artes do porto. Das maravilhosas caixas de tesouros perdidos com naprons de porcelada, rendinhas, bordados, sapatos velhos, cestas e cestinhos, caixas e caixinhas, e gravatas (oh, quantas gravatas) lá vasculhámos por incálculável material - ainda que 80% das vezes sem utilidade prática aparente (ou um caracol de porcelana ou um sapatinho pontiagudo de fivela dourada não fossem um de tantos objectos peculiares).
A nossa proposta passava então por criar novos formatos para a marca com o que quer que nos fosse aparecendo sob o signo da "forma única"; e por isso mexiamos-nos rapidamente e procuravamos soluções estranhas e inesperadas, testávamos encaixes, materiais, sobreposições e colagens toscas - a mesa era cenário e vítima de guerra. O tempo acabou e as primeiras versões meio incertas, meio corajosas foram apresentadas em primeira ronda a um juri receptivo (com direito a esboços in momento e tudo!) que deu as critícas iniciais e nos preparou para uma segunda fase: amadurecer os objectos e apresentá-los perante alguém que nunca os vira, defendendo-os como quem vende o seu produto.
Time out para almoço, no entanto. A febra veio bem a jeito e mais dois dedos de conversa tornaram o serão bem passado. Chegámos, escolhemos os protótipos que deviam vingar, pensamos numa campanha sólida e, chegado o momento, pelo menos defendemos aquilo que nem uns valentes. Sentia-me nervosa mas também como uma pontadinha de orgulho profissional. Tinhamos alguns argumentos fortes e eloquentes e, ao sinal de aprovação, não só foi uma pequena vitória: afinal também recebi um pack de latas de colas light bem jeitosas.
E como salientou a minha querida irmã quando cheguei a casa:
"Que bom, já não tens de roubar mais!".
Pois não. Agora que ando em workshops a vida é outra coisa.
Um amén saudoso para todos vós.
P.S: dos outros trabalhos também resultaram coisas incríveis - regra geral, pouco ortodoxas. Na volta ainda desci o Bairro Alto e, não satisfeita com o pack, roubei tudo o que era revista e material grátis a que tinha direito. No fim ainda tive tempo para me meter num carro e assustar por alguns segundos o meu instrutor com uma manobra brusca de última hora numa rotunda. A vossa menina está é a ficar crescida e vocês não querem admitir.
O site do projecto: http://www.cocacola.pt/projectogostadeti/
*
"A verdade é que já me tinha esquecido de como é bom
ter amigos em vez de potênciais namorados."
Existirá melhor epílogo para 2 semanas de engrenagens novamente bem oleadas, novas rotinas, primeiras impressões, períodos de adaptação e, atrevo-me até a dizer, de alguma (e tão bem vinda) leveza de espírito que um encontro inesperado e flagrante com "Chérie"?
(dificilmente).
Ou pelo menos, não com os mesmos efeitos. Porque esta personagem é nada mais que o regresso renovado e melhorado da Boémia Francesa - ou melhor dizendo, da boémia inglesa em plena Belle Époque, o que não deixa de ser muitíssimo irónico! Este é o nosso Garrel versão 0.2. É o filho pródigo retornado e momentaneamente idolatrado. É, em suma, a criatura perfeitamente intocável e platónica que brinca com os limites do meu imaginário - e convenhamos, não haveria razão para tanto alarido e surpresa não fosse esta personagem já existir em contornos na minha mente. Ainda antes de se materializar no ecrã.
Portanto, como a noite é longa e o fim-de-semana prolongado, fiquem com este cheirinho de "Cherie", com Rupert Friend como um nome definitivamente a apontar e Michelle Pfeiffer numa interpretação que tem tanto de elegante como de envolvente.
[tenho esta sensação que caio sempre no mesmo erro: não deixa de ser extremamente curioso como é que as personagens mais fascinantes seriam as mais insuportáveis num plano real. fica a reflexão]
*
Ainda tenho muitas crónicas no bolso. Que é como quem diz que existe uma quantidade infindável de palavras enleadas em pensamentos mais ou menos soltos, estados de alma que ficaram por exprimir ou ideias por explorar. E é a verdade mais pura e crua que nem sequer tive qualquer pretexto válido para este silêncio nem para não tocar tão prolongadamente nas crónicas. É assim, é assado, é frito e cozido: podia dar as justificações que quisesse, mas a questão é que grande parte das coisas que fazemos ou nos acontecem não passam de simples acções nonsense às quais tentamos dar algum sentido.
O que por sua vez me leva a perguntar: porquê esta tendência para ver as coisas de um ponto de vista quase narrativo então? Porque é que, por exagero, graça ou só por pensar demais, damos a certas ocorrências da vida um carácter quase épico? E, contudo, torna-se por vezes irresistível não o fazer. Daí que me sinta agora numa dessas fases.
Admito, a culpa é minha - minha e de algumas pessoas como Miss H. que compactuam com esta mesma forma de pensar: que uma série de acontecimentos e pequenas mudanças caminham só e irremediávelmente em direcção a um ponto fulcral de viragem. Que todos esses esforços e tensões (acumulados e agravados por exames, importantes decisões e cansaço) ou apenas longos momentos de entediante indiferença só se podiam reverter com algo novo. Um momento.
Este. No meu caso, o saber os resultados de entrada na Universidade.
Portanto sim, é tudo minha culpa. Eu criei um mito e sustentei.me nele, na crença que teria de encarar isto como uma série de etapas: primeiro, arrumar as coisas que tinham de ser arrumadas e fazê.lo num espaço com pouca manobra para erros; em segundo lugar, agir de forma decisiva e irreversível, algo tão angustiante quanto deliciosamente confortante mal escolhi o que queria e entreguei aquela candidatura de consciência limpa. De repente as coisas tornaram.se claras, serenas e depois.. foi só aguardar - até agora.
E uma vez chegada à meta final do meu mito (que só agora vai dar lugar a uma corrida muito maior, esta bem real e a sério) só quero poder celebrá.lo como tal.
Bolas, afinal entrei no curso que escolhi em primeiro lugar. No que queria e com margem para tal!
Por isso, nonsense ou épico só sei que quero a minha legitimidade para gozar este curto período, cantar alto e (caso ninguém esteja a ver) dançar. Para ouvir a minha lista de músicas feel good mood e de bicho carpinteiro sem me importar. Para dizer que marquei um ponto final e iniciei algo novo. Porque no final é disso que se trata: não de acabar o liceu ou de entrar na universidade mas de ter de recomeçar e jogar com novas regras.
E se quisesse de facto usar uma justificação mais épica, diria que não há melhor forma para quebrar um longo período acções suspensas como iniciar um relato com uma notícia destas.
[Os Beatles na fotografia]
Há dias conheci o novo "namorado" de uma das minhas amigas de infância. X chama-se ele. É um rapaz alto e magro. Cabelo meio desgrenhado, pelos ombros de um castanho meio claro. Barba de dois dias. Olhos brilhantes e sorriso sempre pronto. Portador de um género muito próprio. Daquele que para nós é querido e original e para ele normal e rotineiro, banal até. Ao longo da noite pude descobrir outras características como o seu sarcasmo, inteligência e sentido de humor. Gosta de danças de salão não de tecno ou transe. Deu uma nota de 10 euros para pagar uma viagem de 5 e ia-se embora sem troco. Sem fantasiar ou extrapolar, este rapaz, inexistentes leitores, é em metade (senão mesmo totalmente) a personificação do tipo de rapaz que passeia nas paredes invisíveis do meu imaginário.
O mais curioso é que a minha amiga em questão em nada se assemelha com ele. Quando me dava as pistas iniciais sobre o rapaz apressou-se a assegurar-me que não teria nada de sério ou que não ia assumir nada de muito complicado, embora estivesse apaixonada. Sim ela está apaixonada, a pobre coitada. Apaixonada, não embeiçada ou engraçada.
São diferentes e moram a pelos menos 5 países de distância. Razões perfeitamente válidas e justificáveis para a sua racionalidade. Mas então se é assim porque é que ela resolveu aceitar esta experiência? Porque é que o deixou vir ter com ela a Lisboa se depois a despedida será muito pior? Para quê 5 dias solarengos, regados de passeios e beijos se depois no final da semana as lágrimas são mais que garantidas?
[Porque vale a pena. Vale sempre a pena. Sempre.]
A impressão ou "comichão" que me fazia antes ao vê-los juntos, agora dissipou-se. De repente percebi: sim é verdade que em nada são parecidos e sim também é verdade que dava tudo para ter um rapaz assim ao meu lado e que, em surdina, me sinto um pouco, ok muito, injustiçada. Afinal de contas das três amigas eu sou a mais intelectual, sou a que mais me esforço para saber mais ou para encontrar algo ou alguém onde me sinta realmente identificada e assim do nada ela aparece junto a mim com um rapazinho daqueles. É claro que sinto algo. Não sou de ferro. Mas também assumo que o sinto e não torno essa sensação agridoce em algo negativo. Não.
Ela mereçe, disso não tenho dúvidas. Tudo isso não deixa de ser verdade mas se virmos bem o que ela está a sentir, já eu senti...no verão passado. Confesso que não sentia nem metade do que ela sente por ele mas conseguia sentir-me feliz, diferente, adulta mas acima de tudo mais liberta.
E lá está ela deu-lhe algo que eu ainda não lhe podia dar, o que nos leva à segunda questão. E por isso mesmo sinto-me uma tola, uma idiota e atrasada.
"-Não existem príncipes encantados."
"-E julgas que eu não sei?"
"-Sabes perfeitamente que tens um ritmo diferente. É assim mesmo e não vais morrer por causa disso. Cada um é como é."
"-Sim, sim..."
"-Agora também não podes ser niquenta ou esquisita."
[Obrigada pai, fizeste-me sentir muito melhor.]
"-Mas que mania é essa de eu ser niquenta? Eu não sou assim! Bolas!" (É que não sou mesmo!)
Deviamo-nos auto-congratular por sermos cidadãos de uma sociedade significativamente aberta em que o sexo é tratado como uma banalidade (às vezes até demais). Um sociedade que prima, na generalidade, pela informação e planeamente familiar. Uma sociedade que aceita de braços abertos jovens ainda virgens. É quase grandioso. Obrigada Senhor! Mas se tudo isso acontece porque raio me sinto, mais do que nunca, pressionada para o deixar de ser? E não sou só eu, acreditem. É lixado.
E aquela sensação estranha de atraso insiste em aparecer por muito alta que esteja a música.
A questão é: se somos assim tão diferentes e especiais, tão fieis enquanto amigas, responsáveis enquanto filhas e aplicadas alunas e mais uma caixa de cartão cheia de palavras bonitas porque raio não merecemos um rapaz "porreiro" como prenda?
A sério. É que não faz sentido. Nenhum. (Tal como este estúpido texto que em nada contribuí para este blog.)
Mas sabem...ás vezes consigo sentir-me muito mal. Tento acreditar e convencer-me que é assim mesmo que as coisas são e que cada um é como é. Que quem tiver de aparecer simplesmente ainda não apareceu. Mas que irá aparecer.
E se isso não for verdade? Se de repente ao toque de umas palavras mais ríspidas não me vejo realmente tal como sou: uma daquelas miúdas de camisa de noite com o dedo na boca e com o urso preso na outra mão à procura de algo enquanto chucha pacificamente no seu pequenino dedo.
*
Tudo isto, perguntam-se vocês, para quê? Para nada ou para tudo. Escolham. Para mim era urgente. Tinha de tirar todas estas frases encadeadas em raciocínios estranhos da minha mente senão não iria aguentar até ao final da semana. Agora e atenção não confundão este post que é um desabafo desajeitado com um discurso "uh-não-gosto-de-mim-porque-ainda-não-tive-sorte" ou algo "Libertem os virgens!".
Um bem haja bem escondido...
[na foto: Clark Gable e Claudette Bernard numa cena do filme "It Happened One Night" de Frank Capra. Vale mesmo a pena ver até porque percebem o porquê desta imagem]