sábado, 25 de junho de 2011

Um ano lá passou...


E dei por mim a estacionarmos o carro no mesmo lugar, a caminhar no mesmo passeio, a apanharmos com o mesmo vento de final de tarde, a chegarmos à mesma igreja e a vermos as mesmas caras. E a sentirmos a mesma saudade, a mesma ausência. Passou pois um ano desde que tudo aconteceu. E é engraçado o facto de isso me levar, quase que inconscientemente, a fazer um balanço. Em doze meses algumas coisas mudaram. Umas pessoas saíram de repente, outras entraram de socapa e foram ficando e outras simplesmente se mantiveram fortes do meu lado. Há um ano atrás estavamos nós de volta dele. Hoje ainda estamos todos de volta dele. O sentimento já não é tão condensado o que nos permite respirar com mais facilidade mas assim que em plena missa o seu nome é dito no rol de todos os outros chamados à memória dos seus respectivos familiares, a respiração suspendeu-se por segundos. Ouvir o seu nome entre outros nomes estranhos, outras almas, outras vidas terminadas. É quase que como uma estalada de luva branca. "Sim, não te esqueças da razão porque aqui estás." Mesmo na alegria de rever os primos que sempre moraram longe ou de cair nos braços daquela tia mais divertida ou atirar para o ar bitaites sobre política, sabemos que assim que entrarmos naquela igreja, lotada por sinal, e nos sentarmos a coisa torna.se real. Mas não, ainda não é desta. Ouvimos todas as palavras do padre, ponderamos a acertividade da homilia, olhamos para as típicas beatas e para o ar cândido (ou será impaciente?) dos acólitos. Murmuramos algumas músicas e quem quiser comungar só tem de seguir a filinha. Até que o nome é atirado para o ar embrulhado em nomes estranhos de outras pessoas. Quase como uma ladainha chorosa. A igreja fica em silêncio. Todos pensam nos seus. Não somos só nós, não sou só eu a pensar naquele que perdi. Não mesmo.
Pois que um ano passou e se pensar no que mudou não posso pensar só na questão mais óbvia que envolve aquele que entrou em surdina. Não. Isso é ficar pela espuma das coisas. E honestamente irrita.me porque ignora tudo aquilo em que mudei. A verdade, é que mudei. Nem que seja fisicamente. Sei que mudei. Sei que cresci. Sei que me tornei ainda mais céptica mas talvez mais destemida. E penso que, e lembro.me várias vezes disso, a passagem de ano marcou isso. Foi uma viragem. Para melhor ou pior, não sei nem me interessa. Foi apenas uma viragem.

Às vezes é que caio naquele lugar-comum de me perguntar "O que é que ele diria se ele me visse agora?"

Yeah, yeah, even the best fall down sometimes.


[sr Eastwood fotografado pela grande Leibovitz]

1 comentário:

  1. depois de uma conversa como a de hoje, isto ainda condensa muita coisa e nao deixa de ser extremamente pessoal. a imagem, é curioso, parece que nao podia ter sido mais bem escolhida

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