Pelo menos eu sei gosto, bastante.. ainda. Mesmo após estes três (ou mais?) anos de ter ouvido pela primeira vez as músicas de Jamie Cullum.
Sim, é ele mesmo - esse rapazinho twentysomething (que curiosamente chega aos 30 este ano!), descabelado, de all star preparado, piano às costas, timbre característicamente ingénuo e um novo jazz, fresco, criativo, irreverente e criado a partir da miscelânea confusa (mas incrivelmente atraente) do melhor dos clássicos do género com a atitude da pop contemporânea. Não há forma de vos falar deste jovem Brit sem o tornar pessoal, nem eu queria fazer esta crítica de outro modo. E no entanto.. não sou fanática, não de todo. Digo.vos isto porque já passei essa fase de coleccionar posters, guardar todas as imagens possíveis da internet, ver as actualizações constantes do site oficial e esperar por toda e mais alguma novidade.. com outros artistas e noutros tempos (longínquos, agora visto ao longe).
O que sinto pela música e Jamie Cullum, no entanto, é uma simples e profunda adoração. Não um entusiasmo desproporcionado nem histérico, não uma necessidade constante de ouvir as canções vezes e vezes sem conta, não uma devoção religiosa e de culto ao artista e a tudo que o envolve - nem a minha personalidade se enquadra já nesses termos, nem a música o incentiva. Mas é uma adoração porque as músicas continuam a dizer.me o mesmo que diziam na altura, o seu valor e a forma como me deixo levar por elas não cansa nem passa do prazo de validade e, ainda hoje, consigo descobrir novas nuances nos tons, nos toques erráticos de piano e neste ou naquele ponto em que a voz rouca traz consigo a sensibilidade de algo maior e melhor.
Ouvir a música de Cullum é como voltar a casa:
encontrarei sempre nela conforto, preencher.me.á ainda as medidas e, quanto mais não seja, marcará uma fase que associarei sempre a coisas mais claras, mais leves e mais frescas.
Isto aconteceu da forma mais subtil e casual possível: um presente que tinha de comprar à minha mãe, um tiro quase completo no escuro à parte de uma entrevista que vira e que pouco ou nada me dizia. Dessa fase só conhecia o óbvio Everlasting Love que ecoava de tempos a tempos nas rádios. E depois uma coisa puxa outra.. um dia tira.se o disco para ouvir qualquer coisa enquanto se estuda, ouve.se, estranha.se e por fim entranha.se. Uma música, outra.. (esta aqui também é bem interessante - deixa.me ver a capa para procurar as letras). E quando damos por nós lá está o pequeno cd de um lado para o outro no nosso antigo discman - porque nesses escassos três anos passados era o que imperava ainda).
Catching Tales foi o primeiro álbum e por isso, afectivamente, o melhor para mim. Caramba, desse disco pouquissímos são os hinos que ficam de fora sem serem considerados "espectaculares": é impossível dar a volta à nostalgia que é ouvir o poder quase imutável de 21 Century Kid e Oh God ou a energia de Get Your Way (primeiro grande amor) e Nothing I Do. Sei que estou a entrar por campos em que o que falo pode parecer chinês mas não consigo evita.lo. A capa e os grafismos eram originais, as letras faziam sentido e a combinação se sons tinha um travo dificil de largar.
Seguiu.se a descoberta dos álbuns anteriores pelo sentido inverso à sua saída: Twentysomething e Pointless Nostalgic. Levavam mais algum tempo a assimilar mas, quando dava por isso, já estavam plenamente enraízados nos meus gostos de uma maneira tão despreocupada e familiar que perdurou até então.
Não sei se quando sair um novo cd o sentimento perdurará, não o consigo garantir. Mas sei que é inevitável eu me livrar desta minha própria atitude de pointless nostalgic com tanta facilidade, se estas canções me acompanharam por momentos felizes, melancólicos, pensativos, despreocupados, ansiosos. E sei que se o rapaz voltar cá não perco essa oportunidade nem por nada, como aconteceu antes - lá estarei com tudo trauteado e sabido de trás para a frente.
Fica também de salientar a última colaboração deste miúdo para a banda sonora do mais recente filme de Clint Eastwood, Gran Torino, e a sua igualmente incrivel habilidade para as covers - o que, a par do facto dos sacanas do Youtube terem retirado alguns dos melhores videos dele, é mesmo isso que vos dou a ver. Misterious Ways dos U2 e uma mãozinha das Sugababes no final:
dociiiiinho *
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