Maria Callas. Audrey Hepburn. Frida Khalo.
São estas as minhas divas.Os meus alter-egos.
São todas aquelas mulheres que têm algo que me falta. São aquelas almas que tiveram coragem de fazer algo que todos os dias assim que acordo até que me deito ambiciono fazer. Algo diferente.
Uma tem a voz, outra a actuação e outra o raciocínio.
Uma morreu de desgosto, outra era tímida e ainda outra era aguerrida.
Uma era teatral, outra era magrinha-magrinha e a outra tinha buço.
O que têm em comum estas três almas...?
Ambas eram apaixonadas e povoam o meu imaginário quotidianamente.
Devo confessar que com elas sinto-me segura e bem. Sinto-me identificada mas acima de tudo não me sinto só.
Sempre que oiço Callas é como se tudo se quebrasse lentamente à minha volta. Quebram-se as preocupações, quebram-se os medos, quebram-se os segredos e vergonhas e num ápice assustador as lágrimas, quando é o caso, insistem em aparecer. Quase como as serpentes de um tocador de flauta. Assim que a voz sai disparada de um headphone, uma lágrima, por muito pequena ou transparente que seja começa a serpentear o meu rosto. E quando falo de lágrimas não me refiro apenas às líquidas mas às invisíveis também, sobretudo essas. Aquelas que não precisam de nos molhar a cara para saber que lá estão e para nos reterem o costumeiro tráfego de pensamentos estupidamente banais.
Confesso que sempre me rendi a divas. Talvez por invejar aquilo que estas conseguiram alcançar de uma maneira muito própria mas sempre, sempre caramba!, da forma mais graciosa, bela, ousada e inteligente.
Não quero ser como elas no sentido de só as admirar adoptando a panóplia irritante de fã(posters, cd's, dvd's) ou de trocar a minha vida por a delas mas que lhes tenho alguma devoção, tenho e faço questão de não a esconder.
Mas voltando à questão das divas. Quando penso na palavra, juntamente com as fotos a preto e branco da cara teatralmente maquilhada de Callas ou de uma figura envolta em floreados mexicanos e colares garridos, lembro-me da minha avó. A mãe do meu pai. Ela sim era uma diva. Nunca a conheci, aviso, mas as fotos e histórias, ainda que fugazes, ilustram a palavra em todo o seu tamanho. A minha bisavó paterna também era uma diva, daquelas que falava distintamente, de crítica e humor apurados e inteligência na ponta dos dedos. Mas era uma figura. Penso que seria uma diva mas já de outro escalão, num escalão: diva teatral.
Era uma pessoa determinada, carinhosa, elegantérrima, de coração extremo e voz colocada, com uma frase sempre oportunamente engatilhada.
Todavia, e sem a menosprezar, considero a minha avó Mariete, mãe de meu pai, "a" Diva!
Se soubessem o que as fotos me fazem sentir...
Queria tanto fazer parte daquele mundo, ver toda aquela cor, sentir a textura dos seus vestidos, ouvir as suas palavras, cheirar o seu perfume, olhar para ela...
Cada dia que passa o meu pai diz-me que estou cada vez mais parecida com ela. É um elogio para mim, é claro.
Mas sabem o mais estranho? É que apesar de nunca a ter conhecido por infortúnio destino, sempre me senti muito próxima dela. Imensamente próxima até. Quase como se parte de mim a conhecesse.
Cheguei uma vez a perguntar à minha mãe se ela gostaria de me conhecer, se ela ficaria contente por ter uma neta como eu. A resposta foi um sim completo e pronto, seguido de um sorriso. Acalmou o meu coração na altura, mas agora volto-me a perguntar: será que ficaria satisfeita? Será?
E sabem o mais estúpido?...Nunca saberei a resposta.
[foto:Maria Callas e vídeo:O Mio Babbino Caro por Maria Callas. É apenas uma pequena amostra do que estava a ouvir aquando o meu post foi escrito. Aproveitem]
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quem te conhece sabe que essas senhoras fazem parte intrísseca da tua vida, maneira de ser e imaginário - mas certamente que sim e sem qualquer pontada de dúvida sobre o assunto! lembro.me (quase religiosamente) daquela exposição de frida khalo.. da maneira como o vejo, um marco de abertura para uma série de exposições futuras, diletâncias, comentários e de boa amizade!
ResponderEliminarsomos gentinha estranha, não? *