domingo, 17 de setembro de 2017

Voltei aqui, ao sítio onde fui feliz




Confesso que não sei como utilizar exactamente as palavras para preencher este espaço. Onde estive eu, afinal, durante todo este tempo? Acabei por voltar aqui, como volto sempre: para procurar uma escapatória, um refúgio. Uma fuga imediata do que é verdadeiramente urgente num canto silencioso, como uma criança em busca um abrigo seguro. É sempre assim. Gostava de dizer que houve outro motivo menos cobarde para regressar a este sítio - no entanto, é o que é.

Julguei este lugar completamente abandonado, admito. Sei que, no que depende de mim, a última vez que escrevi aqui foi noutra vida. Talvez seja simbólico, pensando melhor. As lembranças destes últimos três anos vagueiam na minha memória como partículas em suspensão. Como quando voltas a abrir um quarto empoeirado, onde bate aquela luz de fim de tarde oblíqua, e tudo o que vês é uma dança de poeira a oscilar no seu limbo privado. Mas a verdade é que este espaço não estava completamente vazio. Durante a minha ausência escreveste três textos belíssimos, minha cara cronista, que ficaram a ecoar nas paredes deste espaço. E descreveste (muito melhor do que alguma vez poderia) a sensação de crescer e de regressar ao lugar onde crescemos. É claro que na altura respondi-te e disse-te que te ajudaria a desempoeirar este blogue: menti claro. Passou-se um ano e só agora me dei conta da enormidade dessa mentira.

Gostava de vos contar como estou neste momento. Como é que o tempo passou quando estava a olhar para o lado e de repente dei por mim com 25 anos, em eminência de fazer 26. Como é que de repente, no meio de acções banais, comecei a ter memórias vívidas - com a nitidez de quem percorre uma rua com um cheiro específico - como se tivesse acertado por alguns segundos numa dobra do tempo. Como é que livros, músicas, filmes, projectos e viagens - que pensei ter revisitado ontem - me atiram para muito mais longe, deixando-me desorientada e sem fôlego. Não é não tenha existido uma felicidade sólida e constante, no passar destes anos, ao lado de quem verdadeiramente estimo. O que é importante está, felizmente, no lugar. Mas temo que pelo meio tenha deixado escapar algo fundamental. Algo que me fugiu por entre os dedos enquanto procrastinava e todo o mundo progredia em surdina.

Ou talvez, se for honesta comigo mesma, este sentimento sempre me tenha acompanhado como ruído de fundo. No final do dia resta-me rasurar estas vozes (ah!) e fechar o ciclo de vez. No entanto, não deixa de ser curioso voltar a este sítio e voltar a ler algumas das coisas que escrevemos. Outras dúvidas existenciais, outros problemas de fundo, outras parvoíces, outras pessoas, outros ciclos. Mas felizmente, como digo tanta vez e volto a repetir, ainda bem que há coisas que se mantém.

Fotografia de Emma Stone por de Jack Davidson para o New York Times (e que bom este sentimento de voltar a redescobrir as nossas imagens esquecidas de Public Affairs!)