Confesso que não sei como utilizar exactamente as palavras para preencher este espaço. Onde estive eu, afinal, durante todo este tempo? Acabei por voltar aqui, como volto sempre: para procurar uma escapatória, um refúgio. Uma fuga imediata do que é verdadeiramente urgente num canto silencioso, como uma criança em busca um abrigo seguro. É sempre assim. Gostava de dizer que houve outro motivo menos cobarde para regressar a este sítio - no entanto, é o que é.
Julguei este lugar completamente abandonado, admito. Sei que, no que depende de mim, a última vez que escrevi aqui foi noutra vida. Talvez seja simbólico, pensando melhor. As lembranças destes últimos três anos vagueiam na minha memória como partículas em suspensão. Como quando voltas a abrir um quarto empoeirado, onde bate aquela luz de fim de tarde oblíqua, e tudo o que vês é uma dança de poeira a oscilar no seu limbo privado. Mas a verdade é que este espaço não estava completamente vazio. Durante a minha ausência escreveste três textos belíssimos, minha cara cronista, que ficaram a ecoar nas paredes deste espaço. E descreveste (muito melhor do que alguma vez poderia) a sensação de crescer e de regressar ao lugar onde crescemos. É claro que na altura respondi-te e disse-te que te ajudaria a desempoeirar este blogue: menti claro. Passou-se um ano e só agora me dei conta da enormidade dessa mentira.
Gostava de vos contar como estou neste momento. Como é que o tempo passou quando estava a olhar para o lado e de repente dei por mim com 25 anos, em eminência de fazer 26. Como é que de repente, no meio de acções banais, comecei a ter memórias vívidas - com a nitidez de quem percorre uma rua com um cheiro específico - como se tivesse acertado por alguns segundos numa dobra do tempo. Como é que livros, músicas, filmes, projectos e viagens - que pensei ter revisitado ontem - me atiram para muito mais longe, deixando-me desorientada e sem fôlego. Não é não tenha existido uma felicidade sólida e constante, no passar destes anos, ao lado de quem verdadeiramente estimo. O que é importante está, felizmente, no lugar. Mas temo que pelo meio tenha deixado escapar algo fundamental. Algo que me fugiu por entre os dedos enquanto procrastinava e todo o mundo progredia em surdina.
Ou talvez, se for honesta comigo mesma, este sentimento sempre me tenha acompanhado como ruído de fundo. No final do dia resta-me rasurar estas vozes (ah!) e fechar o ciclo de vez. No entanto, não deixa de ser curioso voltar a este sítio e voltar a ler algumas das coisas que escrevemos. Outras dúvidas existenciais, outros problemas de fundo, outras parvoíces, outras pessoas, outros ciclos. Mas felizmente, como digo tanta vez e volto a repetir, ainda bem que há coisas que se mantém.
Fotografia de Emma Stone por de Jack Davidson para o New York Times (e que bom este sentimento de voltar a redescobrir as nossas imagens esquecidas de Public Affairs!)
Fotografia de Emma Stone por de Jack Davidson para o New York Times (e que bom este sentimento de voltar a redescobrir as nossas imagens esquecidas de Public Affairs!)