Perdoa-me as pequenas alterações de conteúdo, mas hoje dei por mim a escrever este texto e achei que se enquadrava na crónicas pelas mesmas palavras praticamente. E sim, ri-me com a tua mensagem de há uma semana atrás sem saber bem como te responder a preceito, porém acho que isto pode servir como as actuais considerações do poeta.
Os 21 vieram e os 21 foram, porém só me dei conta disso tarde de mais.
Em vez de ser antecipada, temida, planeada ou simplesmente evitada, esta data aproximou-se suavemente e depois voltou-se a ir embora como mal tivesse deixado um rasto mais profundo. O que pode parecer algo estranho de se dizer, ingrato até, quando o fim de semana fugiu por completo da rotina quotidiana: os meus pais e a minha irmã vieram-me visitar a Nottingham, matámos saudades, mostrei-lhes a cidade e explorámos os arredores. Comi talvez o melhor ravioli que alguma vez experimentei (um misto de molho suave de avelãs acompanhado de bom vinho que tanta saudade me tem deixado), fomos presenteados com um céu limpo que concedia uma nitidez notável a cada impressão, visitámos ruas mimosas, pubs históricos, catedrais luminosas e a imponência de algumas casas aristocráticas britânicas. Babei-me com a minha nova máquina linda (uma canon 600D de fetiche, quase) e encontrei o livro que procurava à meses, uma bíblia da inspiração visual no design editorial.
No entanto não deixou de ser um encontro caseiro, talvez na medida em que estas pessoas são de facto a minha casa num certo sentido ou pelo menos têm-no sido sempre até agora, e por pouco a data passava-me ao lado. Não é que não me lembrasse dos meus anos, do dia, até da semana. Simplesmente dava por mim a esquecer-me de sentir que era o meu aniversário sem ser por nada exterior a mim. Admiro profundamente a preocupação e esforço da minha família em vir cá apenas para celebrar esta data comigo e até fiquei admirada com a quantidade de pessoas que se lembrou de me dar os mais singelos parabéns, contem eles o que contarem na era do facebook. Mas foi apenas esta serenidade quente que senti e logo passou com a mesma leveza. Talvez seja normal. Ou talvez ainda, acaba de me ocorrer, seja assim que é suposto ser nos anos seguintes, os pós 21 (pelo menos até entrar nos ressentimentos dos 40)
É estranho porque é algo completamente diferente, mas ao mesmo tempo surge como a coisa mais natural. Nas próximas duas décadas provavelmente nós ou a maior parte das pessoas que conhecemos estarão instaladas nos seus empregos (mais ou menos confortáveis consoante as expectativas e o trabalho), iremos receber convites de casamentos e começar-se-á a falar em crianças. Porém não digo isto como qualquer forma de consideração temerária, no modo ressequido de um velho do Restelo. Mudanças importantíssimas acontecem neste preciso momento com esta minha primeira estadia independente no estrangeiro, todos os nossos projectos pessoais em mente, o limiar da faculdade à porta de entrada (e no teu caso, amiga cronista, a realidade bem táctil que se segue depois disso), bem como as nossas relações e toda a mudança, estabilidade, tensões ou conforto que vem com elas. Talvez esteja por isso demasiado ocupada com o que está a acontecer agora para ter qualquer juízo sobre um número que é apenas abstracto.
Julgo que é apenas o simbolismo. É o twenty something de um Jamie Cullum em pleno secundário e sentir que isso parecia profundamente distante, materializando apenas a ideia que qualquer jovem adolescente tem dos “vinte anos e qualquer coisa". É que uma coisa é vinte - mas o something, o “qualquer coisa” é diferente, não se define. No ano passado fui levada a participar nesta grande festa conjunta e dei por mim com a nítida sensação de que estava no rescaldo de algo diferente: era o pós interrail e o princípio do meu namoro com o tomás, o início do terceiro ano de faculdade e de repente estava a ajudar a organizar o tipo de evento massivo (aos quais costumo fugir) que reunia quase todas as minhas esferas de grandes amigos a conhecidos.
Agora a mudança continua mas de forma indelével. Não me atrevo a dizer que é uma questão de maturidade, mas pode ser que seja algo próximo.
Em vez de ser antecipada, temida, planeada ou simplesmente evitada, esta data aproximou-se suavemente e depois voltou-se a ir embora como mal tivesse deixado um rasto mais profundo. O que pode parecer algo estranho de se dizer, ingrato até, quando o fim de semana fugiu por completo da rotina quotidiana: os meus pais e a minha irmã vieram-me visitar a Nottingham, matámos saudades, mostrei-lhes a cidade e explorámos os arredores. Comi talvez o melhor ravioli que alguma vez experimentei (um misto de molho suave de avelãs acompanhado de bom vinho que tanta saudade me tem deixado), fomos presenteados com um céu limpo que concedia uma nitidez notável a cada impressão, visitámos ruas mimosas, pubs históricos, catedrais luminosas e a imponência de algumas casas aristocráticas britânicas. Babei-me com a minha nova máquina linda (uma canon 600D de fetiche, quase) e encontrei o livro que procurava à meses, uma bíblia da inspiração visual no design editorial.
No entanto não deixou de ser um encontro caseiro, talvez na medida em que estas pessoas são de facto a minha casa num certo sentido ou pelo menos têm-no sido sempre até agora, e por pouco a data passava-me ao lado. Não é que não me lembrasse dos meus anos, do dia, até da semana. Simplesmente dava por mim a esquecer-me de sentir que era o meu aniversário sem ser por nada exterior a mim. Admiro profundamente a preocupação e esforço da minha família em vir cá apenas para celebrar esta data comigo e até fiquei admirada com a quantidade de pessoas que se lembrou de me dar os mais singelos parabéns, contem eles o que contarem na era do facebook. Mas foi apenas esta serenidade quente que senti e logo passou com a mesma leveza. Talvez seja normal. Ou talvez ainda, acaba de me ocorrer, seja assim que é suposto ser nos anos seguintes, os pós 21 (pelo menos até entrar nos ressentimentos dos 40)
É estranho porque é algo completamente diferente, mas ao mesmo tempo surge como a coisa mais natural. Nas próximas duas décadas provavelmente nós ou a maior parte das pessoas que conhecemos estarão instaladas nos seus empregos (mais ou menos confortáveis consoante as expectativas e o trabalho), iremos receber convites de casamentos e começar-se-á a falar em crianças. Porém não digo isto como qualquer forma de consideração temerária, no modo ressequido de um velho do Restelo. Mudanças importantíssimas acontecem neste preciso momento com esta minha primeira estadia independente no estrangeiro, todos os nossos projectos pessoais em mente, o limiar da faculdade à porta de entrada (e no teu caso, amiga cronista, a realidade bem táctil que se segue depois disso), bem como as nossas relações e toda a mudança, estabilidade, tensões ou conforto que vem com elas. Talvez esteja por isso demasiado ocupada com o que está a acontecer agora para ter qualquer juízo sobre um número que é apenas abstracto.
Julgo que é apenas o simbolismo. É o twenty something de um Jamie Cullum em pleno secundário e sentir que isso parecia profundamente distante, materializando apenas a ideia que qualquer jovem adolescente tem dos “vinte anos e qualquer coisa". É que uma coisa é vinte - mas o something, o “qualquer coisa” é diferente, não se define. No ano passado fui levada a participar nesta grande festa conjunta e dei por mim com a nítida sensação de que estava no rescaldo de algo diferente: era o pós interrail e o princípio do meu namoro com o tomás, o início do terceiro ano de faculdade e de repente estava a ajudar a organizar o tipo de evento massivo (aos quais costumo fugir) que reunia quase todas as minhas esferas de grandes amigos a conhecidos.
Agora a mudança continua mas de forma indelével. Não me atrevo a dizer que é uma questão de maturidade, mas pode ser que seja algo próximo.
Sarah Silverman por Martin Schoeller.